colunistas
Do Soldado ao Solnado
Por Nuno Santa Clara
Barreiro

Mas, no meio destes conflitos, surgem situações algo anómalas, pelo menos pelos conceitos sisudos que regem a pior actividade do Homem – a Guerra.
Não me refiro às chacinas de Gaza ou do Sudão do Sul (por vezes esquecido), nem à guerra de desgaste da Ucrânia, esta com contornos que lembram a Batalha de Verdun (1916), com o mesmo método de sangrar o adversário, jogando com o potencial demográfico para desequilibrar o impasse nas operações. Na altura, von Falkenhaym raciocinara assim: nós vamos perder meio milhão, e os franceses um milhão; como a população alemã é o dobro da francesa, perderão na proporção de quatro para um. Assim simples.
A guerra mais curiosa foi a Israel-Irão. O ataque, de surpresa, a alvos iranianos precisos, decorreu com eficácia, e até com danos colaterais reduzidos.
Note-se que o caso de Gaza não serve de referência, porque aí a população é o próprio objectivo.
Interessantes foram as declarações dos EUA, demarcando-se e até censurando a iniciativa, quando qualquer leigo tem a noção de que os bombardeamentos só foram possíveis com apoio de informações dos americanos, bem como o reabastecimento, em terra ou no ar, dos aviões israelitas. Até que Donald Trump, com a discrição e diplomacia que se conhece, anunciou triunfante que “nós dominamos os céus do Irão”.
“Nós”? Rabo escondido com o gato de fora!
Depois foi a resposta iraniana, mostrando que o Iron Dome tinha buracos (10% dos mísseis furaram as defesas) e sobretudo o ataque ao Qatar, com aviso prévio, de modo a preparar as contramedidas e evitar que alguém ficasse ferido. Como tinha já antes acontecido anteriormente num ataque a Israel, assim transformado em aviso, para bem de todos. Evitando uma escalada, que a ninguém beneficiaria.
Tomando finalmente, de forma oficial, o comando das operações, os EUA tiverem de refrear o seu Fiel Aliado, para o que bastou a ameaça de retirada do apoio.
E assim temos que os soldados fizeram a sua parte, que seria para comemorar se não fossem as baixas, independentemente de que lado se deram. E fizeram-no bem, facilitando o atingir dos objectivos políticos, que são as razões das guerras, e com reduzido custo humano.
Com a curiosidade de a contenção ter sido mais visível do lado do “Eixo da Mal” do que do Fiel Aliado. Mais uma discrepância.
De modo que a guerra passou das operações militares para o campo dos comunicados, agora mais animados com as guinadas do Presidente dos EUA.
Um dos comunicados foi o anúncio da vitória, feito pelo Comandante Supremo do Irão. Dir-se-ia uma aquelas declarações pomposas de vitória moral de um clube de futebol derrotado no relvado.
Mas, se das negociações levarem à situação do acordo de Barack Obama de 2015, entre o Irão e os EUA (e mais seis países - acordo esse anulado por Trump em 2018) pode dizer-se que o Aiatolah Ali Khamenei tinha razão, porque um objectivo foi atingido.
Pelo que voltamos à Guerra de 2008, e ao tal prisioneiro que não quis vir.
Que saudades, Raul!
Nuno Santa Clara
30.06.2025 - 13:46
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