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BARREIRO - Meditar e Educar - Um Guia para pais e Professores, de Vera Silva
Do silêncio do útero à descoberta do silêncio interior

BARREIRO - Meditar e Educar - Um Guia para pais e Professores, de Vera Silva<br />
Do silêncio do útero à descoberta do silêncio interior No Auditório manuel Cabanas, na Biblioteca Municipal do Barreiro, ontem à tarde, realizou-se a apresentação do livro «Meditar e Educar - Um Guia para pais e Professores», de Vera Silva.
A sessão contou com a participação da Vereadora Sara Ferreira, responsável pela área Cultural da Câmara Municipal do Barreiro. A obra foi apresentada por António Sousa Pereira.

Divulgamos o texto integral da apresentação do livro da pediatra barreirense, Vera Silva.

Meditar e Educar -Um Guia para pais e Professores, de Vera Silva
Do silêncio do útero à descoberta do silêncio interior

Boa tarde,
Agradeço a Vera Silva o convite que me formulou para estar, hoje e aqui, a partilhar a apresentação do seu livro «Meditar e Educar – um guia para pais e professores». É uma honra. Obrigado.

Começo por sublinhar que após ler, de forma apaixonada, o livro de Vera Silva, optei por deixar as suas palavras ficarem, no silêncio, a percorrer o meu sangue, a tocar os meus nervos, e, com elas deambulei por vários dias, espreitando por dentro das janelas que se abriam perante o meu olhar, numa imensa diversidade de temas que estão semeados nas suas páginas, escritas com ternura e nas quais sente-se o pulsar do coração.

Este é um livro que nos faz sentir a vida, o pulsar da vida, que nos motiva a fazer uma viagem por dentro da criança que está dentro de nós, e, como dizia Platão, que permanece sempre dentro de nós.
Um texto que nos faz pensar o tempo, que faz sentir o tempo, que alerta para a importância do tempo, como percurso de aprendizagem permanente, o tempo que contribui para a nossa constante mudança, o tempo que se faz semente, que se faz flor, que se faz fruto, como dizia Hegel. A dialética da vida.
O tempo que é evolução, que é desenvolvimento, que é crescimento. O tempo que nos encoraja a descobrir o nosso próprio caminho, dando um sentido à vida, superando diversos estádios, e citando Vera Silva – do impulsivo ao emocional, do sensorial-motor à socialização, do pragmático ao cultural, todo o tempo que vivemos e nos forja a personalidade.
Todos nós desde crianças aprendemos a toda a hora, é nesse aprender que nos erguemos como seres individuais e construímos a nossa própria história, como sublinha Vera Silva.

É através do tempo, que se faz aprendizagem, é através do tempo que da criança se faz o alicerce do adulto, semeando a auto-estima.
É da criança que se faz adulto que sentimos o tempo como uma permanente aprendizagem, na busca de um sentido para a vida, e, na descoberta da felicidade.
Um caminho que se faz com quedas, com lágrimas, um caminho que se faz vivendo todas as sensações e emoções, um caminho que se faz nessa totalidade – corpo e mente - essa realidade que faz de nós seres únicos, que nos dá essa condição humana, feita sempre do «eu» e o «outro», do «nós» e os «outros». Somos seres sociais.

Foram estes sentimentos que fui saboreando ao ler as páginas de Vera Silva. Senti as suas palavras, lendo e relendo, porque, na verdade este livro é para ler e reler, é um guia de relações humanas, é um manual de práticas contemplativas, que une a teoria à prática. Um livro onde descobrimos uma linguagem corporal e uma linguagem verbal. Um livro onde somos desafiados a pensar, a descobrir, o que nos rodeia, um livro que nos motiva a pensar que cada ser humano é um ser diferente, e, que, afinal, é essa diferença que permite a evolução da sociedade.
Um desafio para os professores para que façam da sala de aula um lugar de aprendizagem pela experiência, pela relação com os outros. A sala de aula como espaço de integração social saudável. Uma janela aberta ao mundo, sublinha Vera Silva.
Um desafio para os pais, para que sintam que a educação dos seus filhos é uma transmissão de saberes, de descoberta de caminhos, e que a missão de educar é encorajar a continuar em busca de caminhos. Educar pelo exemplo.
Um desafio a utilizar a meditação como um recurso de partilha, de conexão de sinergias, de viver experiências na primeira pessoa.
Na verdade, quando pensamos, meditamos sobre algo, controlamos a respiração, sentimos uma sensação de bem estar, mergulhamos no nosso interior. A meditação fortalece a vontade. A prática da meditação proporciona à mente momentos de contemplação e ao corpo relaxamento. A meditação permite sentir a energia do presente,

Vera Silva coloca desafios aos pais, aos avós, aos professores, à família, à escola, encorajando todos a utilizar de forma positiva a ferramenta da meditação para melhorar as capacidades psicológicas, gerir a informação das vivências quotidianas de forma criativa, e, desta forma, ajudando à descoberta do corpo, das emoções e do ser social.

Digo-vos, senti um enorme prazer ao percorrer as páginas, senti uma imensa alegria porque este livro é uma riqueza de experiências, de reflexão, de exercícios. O corpo humano vivido por dentro de uma experiência meditativa.
É uma leitura que nos enriquece como seres humano, que ajuda a sentir o ritmo da vida, que permite escutar o silêncio do tempo, neste tempo, que vivemos a correr atrás dos ruídos do tempo.
Esta obra proporciona a abordagem de uma diversidade de temas, e, na realidade, na sua leitura, cada um de nós, pode encontrar pistas de reflexão que vão ao encontro do nosso pensar, que estejam de acordo com a nossa forma de estar, de sentir e de pensar o mundo. É um verdadeiro manual de sociabilização.
O seu conteúdo ajuda a gerir o nosso eu, ou a gerir o nosso eu social, como diria Freud – o ego e o super ego.

Vera Silva escava o terreno de muitos temas, abre imensos caminhos, permite pensar a criança, a família, a escola, o tempo, a aprendizagem, os afectos, a comunidade, a felicidade, a gestão de conflitos, a violência, a harmonia, a paz, a humildade, a inclusão, a exclusão, a espiritualidade, entre outros temas, por essa razão, dentro desta diversidade de assuntos, dou comigo a interrogar-me : afinal qual o tema central desta obra?
E, por fim, ali, na página 103, de repente dou comigo a fixar os olhos e a mente, em palavras que fizeram pulsar os meus nervos, e, até, uma lágrima tocar o meu coração:
“Eis que a magia acontece: as duas células encontram-se e fundem-se. A partir daí, o corpo da mãe é o universo do ser que está a ser gerado, então este é o primeiro meio onde realiza as primeiras aprendizagens”.
E um pouco adiante, Vera Silva, acrescenta – “tudo o que a progenitora sente – as alegrias e as tristezas, os medos, a paz e o amor – o bebé também sente”.
Nesse instante senti que o tema central desta obra escreve-se com a palavra AMOR.
Senti a magia, senti que este livro pode ser sintetizado numa frase, que é uma viagem - “Do silêncio do útero à descoberta do silêncio interior”.
O silêncio da magia da palavra amor, o silêncio da magia da meditação, o silêncio da magia da aprendizagem, o silêncio da magia da criatividade, o silêncio da magia que nos transporta ao encontro do tempo que vivemos e nele descobrirmos o silêncio interior, esse lugar único, que nos dá a nossa personalidade.

O silêncio interior do útero onde tudo começa, ao nosso silêncio interior onde nós somos, esse lugar onde não mentimos, não iludimos, afinal, o lugar onde o nosso coração se unifica com o corpo, com a mente e com a vida – é essa a beleza do AMOR.
Quando meditamos e descobrimos o silêncio da nossa voz – o grilo falante – sentimos o sublime da vida, como escrevia o poeta, Fernando Pessoa – “Só nós somos sempre iguais a nós próprios”.
Este ensaio de Vera Silva, coloca desafios ao nível da psicologia, da pedagogia, da antropologia, da sociologia, da teologia, da filosofia, ele, é um manual de práticas, é um poema, um hino à vida, um cântico à harmonia, páginas que ajudam a viver o tempo, por dentro do tempo, e, também a aprender a viver a ausência do tempo. A Paz.
É por isso, que dou comigo a pensar a importância de ter algum tempo para mim. Ter algum tempo para o outro. Não desperdiçar o tempo e aprender a viver em paz e harmonia. É isto a meditação.
Viver é amar o tempo que vivemos, é guardar todo o tempo que vivemos com a ternura da voz da criança que existe sempre dentro de nós e, é ela, a sorrir, que faz sentir o pulsar da palavra AMOR.
Foi lindo, nesta obra, sentir dentro de mim o tempo de criança, sentir, até, o tempo que a criança não tem, porque a criança não tem noção de tempo, e, neste pulsar entre o coração e mente, usufrui a plenitude do momento presente. Libertando-me no silêncio. É isso, não é Vera?

Por essa razão, vou seguir o conselho de fechar os olhos, sentir os aromas, escutar os sons, sentir o pulsar do coração e num meditar entrelaçado com a palavra AMOR, abraço um desafio futuro : As Cartas que eu vou escrever à minha neta!
Obrigado por esta lição de vida. Pela energia criativa que exige de nós acção. Um desafio de amar a vida. Um desafio de viver a magia do amor.

Por isso, Vera, para encerrar partilho consigo este poema de António Gedeão:
Este é o poema do amor
O poema que o poeta propositadamente escreveu
só para falar de amor,

de amor,
de amor,
de amor,

para repetir muitas vezes amor,

amor,
amor,
amor.

Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela,
tantos eu,
conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu

foi amor,
amor,
amor.

Este é o poema do amor.

António Sousa Pereira
Barreiro 17 de dezembro de 2022



18.12.2022 - 01:10

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