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“UM HOMEM DE CONTRADIÇÕES”
Novo livro de DIMAS SIMAS LOPES
Por Carlos Bicas

Presidiu à sessão o Presidente do Grémio Lusitano e também Grande Secretário Geral do Grande Oriente Lusitano, Pedro Farmhouse, a quem coube a abertura e fecho dos trabalhos. A Mesa estava ainda constituída pelo autor, Dimas Simas Lopes, e por Carlos Bicas, a quem coube a apresentação do livro, sob o título de “Notas de Leitura”, intervenção que a se reproduz.
Após a intervenção de Carlos Bicas, Dimas Simas Lopes proferiu uma palestra subordinada ao tema “Sobre o Ofício da Escrita”, após a qual se seguiu uma sessão de autógrafos.
NOTAS DE LEITURA
por Carlos Bicas
1. Devo, antes de mais, confessar-vos que conhecer Dimas Simas Lopes foi um acontecimento fascinante, sobremaneira para mim que, durante uma vida já suficientemente longa, tenho conhecido muita gente.
A empatia que é, seguramente, mútua entre ambos, sempre foi gratificada, sem descontinuidades, pelos bons, saudáveis e sempre agradáveis momentos de convívio amigo e fraterno - que tenho tido o privilégio de partilhar com ele – em amenas cavaqueiras, não poucas vezes, coroadas com higiénicas, saborosas e sonoras gargalhadas; à mesa do repasto; a saborear o verdelho divino, o terroir, que ele produz, com o carinho, humildade e inspiração do Pai Celestial e, como o zeloso Patriarca Noé, a partir das velhas vides, rastejantes e acamadas ao solo pobre, enclausuradas nos muros de ilharga que configuram os “currais” de pedra vulcânica dos Biscoitos, mas as quais conservam, contudo, na sua vetustez vergada e enrugada, a dignidade e a fecundidade própria da natureza de onde ressuma o sublime hidromel dos deuses.
Essa empatia e fascínio meu é extensivo à sua vigorosa e fortemente identitária obra literária.
Tenho tido o privilégio e o prazer de acompanhar toda a sua já substantiva produção literária a qual, como é próprio de um Homem Herdeiro das inquietações do Renascimento, Dimas Simas Lopes, insaciável de conhecimento e saber, leitor compulsivo, acumula com o cultivo de muitas outras artes e saberes: a medicina, como profissão, a pintura, a escultura, a música, o gosto pela ciência e pela arte de pensar o próprio pensamento, que é a filosofia…
2. Até ao lançamento do seu último livro «Um Homem de Contradições», o nosso autor foi plasmando na escrita uma poderosa narrativa telúrica na qual a saga do Homem Universal - não obstante o contido espaço territorial na qual a sua atenção literária se concentra, a sua Ilha Terceira -, o coloca no centro “gravitacional” do mundo, em aliança harmónica, compreensiva, respeitosa e permanente com o meio ambiente e a natureza, mesmo quando esta, amiúde, se engasga e expele lume e lava, sacudindo a terra violentamente.
Uma constante na produção literária de Dimas Simas Lopes é o confronto épico das epopeias e dramas próprios da crua, primordial e intransponível condição humana, e da própria natureza ambiental, com os edifícios erguidos pelas milenares construções políticas, sociais e morais.
E nesse confronto, reconhecida como o é a instabilidade e vulnerabilidade da condição humana é, todavia, na construção narrativa da obra de Dimas Simas Lopes, está sempre presente nas construções narrativas do nosso autor a vigilância generosa e altruísta relativamente à imperiosa observância dos princípios imortais humanistas dos “homens bons e de bons costumes”, como fundamentos do gregarismo e da sã, harmónica e pacífica convivência humana, ou mais propriamente: o amor fraternal, a tolerância, o culto intransigente da liberdade e da inviolabilidade da vida e da pessoa humana, a igualdade, a justiça, a gratidão e o direito à felicidade.
Mas este caldo descritivo de preocupações tão sérias é servido, contudo, pelo autor por um método divertidíssimo e terno de exposição. Nunca me canso de evocar o delicioso quadro «A Primeira Limpeza», cujo titulo associo, obviamente, à acção do Dilúvio bíblico, quadro que faz parte do inesquecível livro de Simas Dima Lopes intitulado «Porto do Mistério do Norte». Nessa narrativa, «O Mestre», seguramente o Noé dos nossos dias, reverente e submisso às determinações de Deus, acaba, por imperativo soberano da sua consciência, desobedecendo às ordens divinas, acedendo a levar o «Tónio» e a sua «Aninhas» na barca bíblica, alegando o seguinte, passo a citar o divertido diálogo:
“Tenho três filhos [diz o Mestre], jovens da tua geração, se eu não acreditar na vossa juventude, pouco me resta na minha idade, e há momentos da vida que são desafios e confrontos para arcar com a responsabilidade da decisão, e a liberdade é assumir o risco da desobediência, quando é justo desobedecer, tu e a tua companheira vêm comigo numa viagem que tenha rumo e destino”. (p. 29)
Mas o «Tónio» tinha mais um pedido a fazer ao «Mestre», passo a citar:
“ […] meu caro Mestre, interferi, sei que a Aninhas não entra no barco sem trazer o cão Nica-Nica, a cabra Judite, o bode Glória e uma cadela para acasalar”. (p. 30)
Ao que o «Mestre» retorquiu, inquirindo:
“são de boa raça?”
Respondendo o «Tónio», «sem pestanejar»:
“Afianço […] não conheço melhor e já deram provas provadas que são de boa fonte e melhor não há, basta olhar, para quem tem olhos na cara […]”.
Mas a humanidade de carácter do «Tónio» ainda não estava saciada, em face da total absorção do «Mestre» nos preparativos da partida. Passo a citar:
“Arrecadadas as sementes e as alimárias chegou a vez de embarcar as do rol dos humanos e, à ultima hora, antes de cair os primeiros pingos de chuva “ [o Tónio], “junto do Mestre” [apadrinhou] “a ideia de não deixar em terra os oficiais carpinteiros Zaqueu, Zebedeu e Zabulão que tinham dado o corpo ao manifesto e o cabedal na construção do navio”. (p. 31)
O «Mestre», por seu turno, «surpreso, meio desconcertado», respondeu sem gaguejar, passo a citar:
“ […] essa é boa, não me tinha passado pela tola e nem estava nos meus planos, nem nos planos de Deus, mas admito que não é má ideia, nem lembra ao diabo, deixar afogar quem se esfalfou para salvar, Tónio, tens cada uma que parece duas, manda entrar e já , é uma tendência e é um pitafe bem antigo esta coisa, de nas horas de aperto e agonia, a gente esquecer tudo e só se lembrar de si, passe fora, posso estar enganado, mas suspeito muito que nesse mundo novo, depois do charco, este instinto está tão apegado que nunca morre”. (pp. 31/32)
E, pela segunda vez, a Lei da boa Consciência triunfou soberanamente sobre outras leis.
Neste mesmo livro, cheio de humanidade e de descrição crua da condição humana, na qual afloram também laivos de subtil realismo fantástico, é narrada a mais épica cena de pancaria de que tenho memória de ter lido na Literatura Portuguesa. Mas isso, é assunto que deixo, e recomendo, à curiosidade dos leitores…
Como nota final sobre a produção literária de Dimas Simas Lopes, anterior a «Um Homem de Contradições», creio ser justo e correcto referir que encontro nessas opções e práticas literárias raízes profundas nos princípios, motivações e métodos da, hoje tão esquecida, geração de grandes escritores libertários - ditos «Populistas» (não com a conotação negativa que hoje esta palavra, infelizmente, tem), reunidos nas tertúlias e páginas da grande «Ideia» que foi o jornal sindicalista revolucionário «A Batalha», órgão da Confederação Geral do Tralho (CGT), e o seu Suplemento Literário e Ilustrado, cuja lema era «Surgindo vem ao longe a nova aurora» -, mestres do realismo, da reportagem e do inquérito antropológico vivencial, cujos nomes merecem ficar gravados na pedra, para que as suas memórias não sejam apagadas da História da Literatura portuguesa contemporânea: Ferreira de Castro, Assis Esperança, Roberto Nobre, Eduardo Frias (autor que desertou, mais tarde, para as fileiras do salazarismo), Manuel Ribeiro, Mário Domingues, Cristiano Lima, o Terceirense Jaime Brasil, Julião Quintinha, Pinto Quartin, Nogueira de Brito, o Barreirense Jorge Teixeira, todos eles devedores e admiradores do realismo do grande Eça.
Geração que abriria as portas à corrente literária, também de raiz social, que dominaria, mais tarde, a cultura, a arte e a literatura portuguesas durante mais de quatro décadas, crismada com o nome de «Neo-Realismo» (véu com que o «Realismo Socialista» foi encoberto em Portugal pelos seus próceres para iludir a Censura do Estado Novo, dissimulando assim, nas aparências, a sua extracção Marxista).
Literaturas preocupadas com a Condição Humana e o Ambiente. No fundo com os destinos do Homem e da Natureza.
3. Confesso que na primeira leitura que fiz do livro «Um Homem de Contradições» fiquei surpreendido pela rotura que se me afigurava representar a sua narrativa, em face dos pujantes livros anteriormente dados à estampa pelo autor: «Sonata Para Um Viajante», editado pela “Calendário das Letras”, em 2012; «Porto do Mistério do Norte», de 2015 e «O Rapto», de 2019, ambos editados pela “Companhia das Ilhas”.
O livro constitui, sem dúvida, uma novidade na abordagem de contexto que o autor faz da realidade. Pela surpresa da novidade e, devido à circunstância de adoptar, com uma frequência quase permanente, um método discursivo de cariz mais “filosófico”, deliberadamente ensaístico, fica-se com a impressão – julgo que a impressão não foi exclusivamente minha -, de a mais recente obra do autor correr o risco de vir a ser eventualmente apodada de “panfletária”.
As novidades bruscas, inesperadas, correm sempre o risco das más interpretações ou rejeições.
Efectivamente, o autor desenvolve a acção da sua narrativa num cenário físico, mental e espiritual, eminentemente urbano, em cujo contexto se movem, no essencial, duas realidades, “Estados”, ou vectores antagónicos, a saber: o status quo histórico, tradicional, com a sua complexa trama de instituições, sociais, políticas, religiosas, militares, ideias e atitudes sedimentadas, leis, privilégios e obrigações materiais, morais e espirituais; e, em oposição, uma république des lettres, formada por um grupo de enérgicos e combativos jovens intelectuais, amantes da leitura, desprovidos de laços institucionais ou organização formal, herdeiros, nas suas convicções e atitudes, do legado filosófico da Revolução Francesa de 1789 e, por conseguinte, dos diferentes caminhos e cambiantes que brotaram da tradição Iluminista, de louvor à ciência, à razão, à democracia e ao progresso.
Esta république des lettres, omnipresente na narrativa do livro, informal, encontrando-se frequentemente em tertúlia, de geometria variável na sua composição, afirma-se ousadamente como livre pensadora e radicalmente crítica e demolidora da estrutura, função e propósitos do edifício político, social e moral vigente. Essa république des lettres afirma-se, igualmente, como dissecadora do descrédito e impotência que esse edifício retrógrado tem vindo, ao longo da História, a causar à realização da felicidade humana, naturalmente por incompreensão e obstrução à plena e livre expressão do que é natural e imutável no Ser Humano e na comunhão harmoniosa deste com o Ambiente e com a própria Natureza, da qual faz parte indissociável.
E, atento à natureza plástica do barro com o qual o Homem foi “construído”, o autor não deixa escapar a constatação de a natureza humana ser, por princípio, contraditória e instável como o é o próprio tempo e o espaço.
Imagino que terá sido este poderoso argumento que terá, sobretudo, levado o nosso autor a intitular este seu livro de «Um Homem de Contradições».
Pela positiva, esta république des lettres é defensora, alternativamente, da construção da «Utopia» libertária.
O labor empreendido pela actividade destes jovens intelectuais tertulianos distende-se através de um vasto e demorado périplo pelos mais importantes e graves problemas que a Humanidade enfrenta no nosso tempo, designadamente os respeitantes à cavalgada actual das novas tecnologias, em particular as da informação e da inteligência artificial, e à emergência das pandemias, sobremaneira a recente vaga de Covid’19 .
Mas, não é unicamente a retórica que prevalece na narrativa. Como não poderia deixar de ser, a lava avassaladora do vulcão de personagens e circunstâncias, como que saídas de uma narrativa bíblica do Velho Testamento, com os seus humanos vícios e virtudes, com a sua enorme sabedoria, emerge abruptamente, gloriosa, nalguns dos quarenta e três quadros que o autor compôs para ao livro. São intrusões muitas vivas que enriquecem o conteúdo da obra e lhe conferem uma vitalidade que mil retóricas nunca poderiam substituir.
Eis uma reduzida galeria desses notáveis personagens, alguns com nomes e alcunhas muito bizarras:
O Daniel da Glória, o João Picha Quente, o Sampa, as senhoras Chora e Vacondeus, o Manuel da Aurora, o Carroça, o Chico Bento, o António dos Correios, o José Vaz, O Burrico, o Henrique Baleeiro, o Francisco Cantoneiro, o João do Pito, o Hermínio Passinha, o Peidão, o Caga no Adro, o Cagão, o Caganeira e o Bota Cagada, entre outros.
Nesse sentido, após leitura mais atenta e detalhada, constata-se, contrariamente às primeiras impressões erradas nas quais este livro nos possa, eventualmente, induzir, que «Um Homem de Contradições» é uma obra notavelmente bem equilibrada, muito bem escrita e de edição muito oportuna nos conturbados tempos de Globalização assimétrica que a Humanidade vive no presente.
Mas o principal invariante presente nesta obra relativamente às obras anteriores de Dimas Simas Lopes é, por um lado, a sua persistente exposição da evidência de que a realidade da natureza e condição humanas é contrária às imposições políticas, sociais e morais, ao autoritarismo e, em particular, aos preconceitos, e de que, por outro lado, é desejável e possível a construção de uma sociedade justa, fraterna, tolerante, livre e cooperativa.
Cito, a propósito, algumas ideias essenciais que o autor nos lega neste livro:
“O mais importante é conhecer as pessoas pelos seus nomes e o que elas pensam do seu trabalho. Onde quer que seja, o valor maior é o valor que se dá ás pessoas. É a partilha do respeito e do salário justo, no sentido de incentivar a criação de cada um. Não há outro valor igual”. (p.179)
“Até para ser rico tem de se aprender, não basta herdar riqueza para cumprir o papel de rico. Também o pobre tem de se rebelar e aprender para sair da sua pobreza, não se pode contentar com o seu estado: E todos [..] pertencem à mesma natureza, feitos da mesma massa, que nada tem a ver com uns serem ricos e outros serem pobres. Não é a natureza, são os homens e as mulheres que dividem mal e injustamente”. (p.167).
“Citando Mahatma Gandhi «Sem revolução social na conduta diária do homem, não seremos capazes de deixar a Índia mais feliz. A revolução social não pode produzir um homem novo, mas será um novo tipo de homem que produzirá a revolução social». Gandhi foi à frente da marcha do sal com milhares de homens dispostos a morrer, mas não a matar. Foi a prática da resistência pacífica e da desobediência civil, a prática da não violência e da tolerância”. (p.170).
4. Irei tentar evitar a tentação de forçar os presentes na audiência a mergulharem nas minhas notas de leitura. Essa tarefa deverá ser exclusiva, através da leitura da obra, de cada leitor do livro, cuja leitura atenta recomendo.
Todavia, creio ser útil deixar algumas breves e dispersa notas exploratórias:
4.1 Afinal, quem são no livro os membros das tertúlias “filosóficas”?
O núcleo mais estável é constituído pelo «Eliseu», bibliotecário de profissão; pelo «Daniel», amigo de infância de Eliseu e funcionário das Finanças e pelo «Rudolfo», «funcionário dos mais antigos do Registo Predial e homem de bom feitio, competência e confiança, que ouvia confissões de muita gente», aos quais se juntam, amiudadamente outros tertulianos, como o «José Maria», «amigo do Daniel e do Rudolfo Prazeres», um entusiasta dos segredos e mistérios da Maçonaria.
Em boa verdade, todos eles, no livro, funcionam como alter-egos de «Eliseu», o mais culto do grupo, seguramente o líder, um sonhador, de extracção libertária e livre pensador, odiando a burocracia e o militarismo autoritário. A sua vasta cultura leva-o, por modéstia e economia de exposição a chamar, através de citações enciclopédicas, em catadupa, a autoridade de mestres pensadores consagrados.
«Daniel», é o realista que, por vezes, põe alguma ordem no pensamento abstracto de «Eliseu» quando este entra, porventura, em considerações filosóficas que não têm em conta a realidade. É também o personagem mais bem informado das vidas privadas e mais íntimas dos locais, função à qual «Eliseu», pela sua maneira de ser, moldada pelo pensamento abstracto, presta atenção, mas à qual pouco se aplica.
Por seu turno, «Rudolfo» é entre os elementos da tertúlia o mais conhecer do mundo e submundo dos negócios e transacções dos proprietários e ricos da terra.
«José Maria», como já referido, é o protagonista do entusiamo pelo conhecimentos dos segredos e mistérios da Ordem Maçonaria.>
4.2 Neste livro o autor, através, sobretudo, dos protagonistas «Eliseu» e «Daniel», dá expressão às concepções essências da doutrina Anarquista, e das Utopias acratas, expondo-as profusamente, segundo abordagem diversas (as expressões que se seguem são da exclusiva responsabilidade do autor destas linhas, procurando cobrir, resumidamente, o que o tradicional glossário acrata tem de essencial) : «Uma Terra sem Amos e sem Deus»; «A Propriedade é um roubo» (Proudhon); «Queremos que a sociedade se constitua com o objectivo de proporcionar a todos os seres humanos os meios necessários para alcançarem o máximo bem-estar possível, o máximo desenvolvimento moral e material»; «Queremos pão, liberdade, amor e ciência para todos» (Malatesta); «Anti-autoritarismo»; «Internacionalismo»; «Liberdade de expressão e de pensamento»; «Igualdade entre todos e recusa de envolvimento na política partidária»; «Recusa da violência, como método revolucionário»; «Recusa de governo autoritário e apologia da abolição do Estado»; «Repulsa à xenofobia, ao racismo e à discriminação».
4.3 Outra vertente muito importante da obra é a associação feita pelos personagens do livro entre a doutrina Acrata e a Maçonaria. O tema é tanto mais interessante quanto é sabido que Anarquistas e Maçons estiveram, no passado, envolvidos em importantes projectos conjuntos de educação e ensino, designadamente na Escola Oficina N. º1, em Lisboa.
4.4 Particular referência merece ainda a atenção e importância que o autor dá ao amor, ao erotismo e aos ternos afectos dos amores secretos, através das narrativas dos personagens centrais do livro, passo a citar:
”Como um vício de que não se pode dispensar, depois dos primeiros actos e experiências e relações amorosas de subir às nuvens, o Gustavo Benvindo e o Salvador do Espírito Santo não resistiram, conta o Daniel ao Eliseu, a visitar com frequência a D. Esperança e a D. Felismina, respectivamente. Como colados aos seus corpos, os requintes daqueles prazeres não os largavam e todas as oportunidades eram boas horas de estar com elas. E como o afecto era mútuo, sem violências, tudo o que houvesse entre eles não tinha o sentido do obsceno. Eram livres e alegres no amor. Sem conotação contrária à dignidade”. (p.119)
E, mais adiante, passo ainda a citar:
“Acho bem, amar de amor é da nossa natureza e nunca pode ser crime ou agressão, quando todos enchem a boca de amor, como sendo a maior virtude. O amor, o afecto, não têm donos, não são propriedade de ninguém, basta constatar o que se passa noutras civilizações. Sem desprezos ou humilhações ou indignidades, respeitando a consciência e dignidade do outro, uma mulher não é pertença de um homem e um homem não é pertença de uma mulher. E Gustavo continuou, o amor quando é são sempre cresce e basta a todos” (p.120)
4.5 O livro termina com uma admirável citação de um «belíssimo» desejo do pensador e escritor, natural da cidade da Praia da Vitória, na Ilha Terceira, o grande Vitorino Nemésio, passo a citar:
“um dia haverá, um dia de ventura em que a sombra da paz, do amor será no mundo a flor mais linda e mais louçã”.
5. Irei, finalmente, concluir, brevemente, com a frese lapidar com a qual o autor inicia a sua narrativa no livro. Diz o «Daniel» para o seu amigo «Eliseu» (p.11), ambos personagens centrais da obra, passo a citar:
“Ser não é fácil”
Carlos Bicas, Azeitão, 15 de Maio de 2023
19.05.2023 - 12:36
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