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MOITA - No Ginásio Atlético Clube na Baixa da Banheira
Apresentação do livro “DA GUERRA NUNCA SE VOLTA” de Armando Sousa Teixeira

TEXTO CONVITE
“DA GUERRA NUNCA SE VOLTA”
Ginásio Atlético Clube, Baixa da Banheira
26 de Novembro – Domingo – 13:00 horas
(almoço com marcação- 912322421+ 965865705)
Sessão pública às 15.30 h
O cansaço da viagem e a tensão da situação nunca antes vivida, trouxeram o torpor e a sonolência. Adormeceu deitado na cama de ferro que ocupava quase metade do espaço útil da cela 4X2 metros na Cadeia da PIDE na Machava. O cubículo possuía uma janela alta gradeada, por onde entrava uma luz coada e o bafo quente da noite tropical, no extremo sul da “província” de Moçambique.
A situação era deplorável. Detido no aquartelamento havia 48 horas, sem nota de culpa, recebido aos berros pelo facínora chefe da delegação da PIDE/DGS em Tete, a incerteza na comunicação à família na chegada à capital, prostravam-no num sono leve em que ouvia a espaços os sons de um batuque longínquo e a zanzara das cigarras na noite africana.
O assobiar de uma estrofe inolvidável fê-lo despertar num sobressalto de estranheza. Do lado de fora da cela alguém assobiava um trecho dos “Vampiros” e o coração partiu à desfilada ao recordar a canção emblemática da sessão de Canto e Poesia vivida há alguns anos na popular coletividade do bairro – o Luso F. C. Um pensamento emergiu: solidariedade ou provocação?
As vozes e a música naquela noite memorável de Novembro de 1967, encheram de entusiasmo o peito e o coração dos muitos jovens presentes no pequeno pavilhão literalmente lotado.
Sentia-se que os sons se ligavam às preocupações com a vida ruim, às tristezas de uma vida escolar elitista e selectiva, às angústias da ida para a tropa e para a guerra. E sublimavam os sentimentos de insubmissão e de rebeldia que animavam a generosidade juvenil.
Era de insubmissão e luta que falavam os acordes de guitarra de Carlos Paredes e de viola de Fernando Alvim, os poemas enérgicos de Odete Santos, a voz melodiosa de Teresa Paula Brito a cantar “Os verdes anos”, o canto corajoso do príncipe dos trovadores, Zeca Afonso.
Da plateia surgiram gritos com pedidos repetidos.
- Não insistam, a canção está proibida! – dizia alguém do lado, judiciosamente.
O moço espigadote contrariado também entrou no coro e lá vieram os “Vampiros”, cantados a mil vozes, duas vezes, com apoteóticas ovações que quase faziam o tecto vir abaixo!
“Se alguém se engana com o seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo! Eles comem tudo!
Eles comem tudo e não deixam nada!”
Rapidamente se aprendiam os versos para cantar em conjunto as efervescências da alma e as razões do coração, com a cabeça num torvelinho:
“São os mordomos do universo todo
Senhores à força, mandadores sem lei (…)
Os senhores do universo todo, ontem como hoje, procuraram aniquilar à bomba a esperança e a luta dos povos pela sua libertação, como conta o livro, “Da Guerra Nunca se Volta”, sobre a Guerra Colonial (1961/1974).
Passados 50 anos da derrota do colonialismo em África (o português e os outros!...), continua a luta em vários pontos do globo contra o imperialismo agressor e hegemónico que persiste em impor os seus interesses geoestratégicos, como usa dizer-se, ou seja, os seus negócios de combustíveis fósseis, de fabrico e venda de armamento, de exploração dos recursos dos povos que lutam pela sua emancipação.
Em 1974 a Revolução Portuguesa desencadeada pelos militares de Abril, deu “novos mundos ao Mundo”!
A humanidade, no desespero do sacrifício de milhares de inocentes, tem de caminhar para um futuro equânime se quiser sobreviver, na continuação da vida neste planeta maravilhoso, num futuro harmonioso para todos e não apenas na satisfação egoísta das elites que prosperam à conta da miséria de milhões e da agressão e da guerra longe das suas portas.
A música de resistência de ontem afinal aborda temas universais e com actualidade.
Vem cantar connosco!
Armando Sousa Teixeira
11.11.2023 - 17:34
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