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BARREIRO - No “ESPAÇO” – “Rizoma Cultural”
APRESENTAÇÃO DO LIVRO “JUVENTUDE DESINQUIETA O DESPERTAR DA MALTA”
A HISTÓRIA DO 25 DE ABRIL CONTADA PELA METADE!...
A História não pode (não deve) ser apenas um repositório de factos, acontecimentos, episódios, mais ou menos significativos, protagonizados por heróis guerreiros ou aventureiros, príncipes ou condestáveis, cabos de guerra ou capitães da indústria, estadistas ou desportistas de eleição.
Como nos ensinou Ladislau Batalha, um socialista que viveu no Barreiro nos inicos do século XX, a compreensão e aprofundamento dos acontecimentos, permitem tirar as ilações e ensinamentos de que a Humanidade necessita na sua senda de progresso e libertação, em que as massas humanas em movimento têm um papel fundamental como motor da própria História.
Vem esta reflexão a propósito do livro em apresentação: “JUVENTUDE DESINQUIETA O DESPERTAR DA MALTA”, em que se conta o acordar para a vida e para a construção do futuro da malta dos anos 60/70 do século XX, na região do Barreiro (Baixa da Banheira e Alhos Vedros).
Para além dos feitos individuais releva-se a participação organizada (o Movimento de Juventude Democrática – MJD), na luta pela mudança da sociedade oprimida, pela conquista das liberdades fundamentais, contra a repressão policial (PIDE, GNR, Polícia de Choque), contra a exploração do trabalho juvenil, contra o obscurantismo elitista na Escola, pelo fim da guerra colonial, contra o fascismo de estado de Salazar e Caetano.
Uma luta corajosa, consciente, estruturada, de gente de “antes quebrar que torcer”, com sacrifícios, medos, avanços e derrotas, mas com a imensa alegria de ter contribuído colectivamente para o 25 de Abril.
Afinal o que foi o 25 de Abril? Golpe militar e evolução com liberdade política, ou uma revolução democrática profunda? Cinquenta anos depois ainda subsistem as contradições políticas que perpassaram toda a história da Revolução, pois disso se tratou!
Uma alteração estrutural do sistema de grandes monopólios capitalistas que suportavam e beneficiavam do regime de ditadura fascista. Como era o caso do Grupo CUF que alguns revisionistas encartados procuram incensar, com uma longa história de exploração do trabalho mal pago (embora com a estratificação de camadas tampão) e de repressão das lutas dos trabalhadores (com a GNR e a PIDE nas suas instalações!) por melhores condições de vida e trabalho.
A Nacionalização da CUF (Nitratos de Portugal e Amoníaco Português) com a criação da Quimigal, foi uma Conquita da Revolução, dos milhares de trabalhadores imigrantes e autóctones (barreirenses de nascimento ou opção), com os seus inestimáveis dirigentes, homens e mulheres probos, esquecidos pela visão inapta e sectária da História:
[Albertina (”Tina”), Alfredo Matos, Ana Vinagre, António Brito, António Ferreira (“Marmelada”), António J. Costa (“Evaristo”), António Marques, António Torrão, António Vicente, Armando C. Santos, Artur David, Benvinda, Brito Apolónia, Belmiro Ferreira, Belmore, Benjamim Roberto, Cândido Graça, Cardoso da Silva, Carlos Alberto (“Carló”), Constância Jorge, Domingas Silva, Domingos Duarte, Eduardo Guerreirinho, Edmundo, Ema Duro, Ercília Talhadas, Eugénio Bento, Flávio Alves, Francisco Ferreira, Francisco Lobo, Georgina Santos, Gil Ladislau, Hermenegilda Pereira, Joaquim Rebelo, João de Almeida, João Janeiro, João do Reis, Jorge Fagundes, Jorge Palaio, José Abreu, José Henriques, José J. Rodrigues, José Milheiro, José Mina, José Moura, Júlia Carvalhas, Júlio Pinto, Lenine Sobreiro, Leonel Coelho, Manuel Espirito Santo, Manuel Palmela, Manuel Revés, Maria Augusta, Maria A. Carrusca, Natércia Dias, Nicolau Cazelas, Palma Cadeireiro, Panóias, Quim Santos, Rodas Nepervile, Rogério Fráguas, Rosa Duro, Teodoro de Oliveira, Vítor Pablo, Zé Loureiro, entre outros trabalhadores da CUF/QUIMIGAL.
Gente honrada que deu o suor, o sangue e tantas vezes a liberdade e a segurança familiar (trabalhador preso pela PIDE, mesmo sem culpa formada, não era readmitido!) na construção do grande império ao serviço dos lucros de uns poucos (um administrador podia ganhar até cem vezes o salário de um trabalhador não especializado!...). O Grupo CUF era o paradigma da tão almejada e nunca alcançada “conciliação de classes”, tão querida do regime e do sistema capitalista (de ontem e de hoje!).
Comemorar os 50 anos de Abril apenas com medalhas e títulos individualizados, com apelos patéticos à memória selectiva, numa perspectiva redutora de veneração de “bravos altruístas”, é omitir a essência colectiva da Revolução de Abril, dos milhares de patriotas anónimos que nesta terra e no país, participaram na luta dura durante 48 anos, com os comunistas sempre na primeira linha de combate!
O 25 de Abril não foi só o Levantamento Militar (honra eterna!) e a conquista da liberdade, foi sobretudo a luta revolucionária de um povo oprimido por uma vida melhor e mais digna, expressa nas conquistas alcançadas nos 579 dias da revolução. Impunha-se um memorial condigno que o Barreiro não tem e menos festejos de marketing personalizado.
Retirar o nome da Avenida das Nacionalizações, no coração do antigo complexo industrial, há muito praticamente desactivado, constitui uma deplorável e insanável contradição, política e eticamente, de quem tem da História uma visão censória, sectária e pela metade.
O oportunismo demagógico tem destas coisas!
Barreiro, Setembro de 2024
Armando de Sousa Teixeira
01.09.2024 - 13:31
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