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O Barreirense no Portugal Democrático
Por Jorge Morais
Barreiro
Divulgamos o texto integral da intervenção do jornalista e escritor barreirense, Jorge Morais, na sessão de apresentação do livro "O Barreirense no Portugal Democrático - 1974 - 2023", de Paulo Calhau, que decorreu no AMAC - Auditório Municipal Augusto Cabrita, no passado dia 17 de novembro.
Paulo Calhau, amigos do Barreirense!
Nasci na Rua Serpa Pinto, bem perto da Igreja de Santa Cruz, na mesma casa onde já tinha nascido o meu Pai, Alberto Morais, que no final dos anos 30 foi capitão dos juniores do Barreirense e depois avançado na equipa sénior.
Por sinal, bem perto, no Largo Rompana, nasceu o filho do Sr. Almeida, rapaz muito lá de nossa casa e que quando eu nasci já era uma estrela do futebol com o nome de José Augusto.
Agora digam-me: a Rua Serpa Pinto está mais próxima da sede do Luso Futebol Clube ou da sede do Futebol Clube Barreirense? Se formos a medir, veremos talvez que está equidistante. Ora bem, foi essa equidistância que eu aprendi desde menino com o meu Pai, que cometeu a proeza de jogar nos três grandes clubes da terra: tendo começado no Unidos do Largo das Obras, alinhou pelo Barreirense, pelo Luso e pelo Grupo Desportivo da CUF antes de seguir a sua carreira fora de portas.
Tiro disto uma lição: a história do associativismo no Barreiro, tanto na sua vertente desportiva como nas suas facetas lúdicas e culturais, é uma história entretecida, uma galeria de vasos comunicantes, um mosaico de cores vivas. A rivalidade clubística, sempre saudável num Barreiro de altas tradições cívicas, só estimulou os brios de cada um dos clubes da nossa terra, do grandioso Barreirense ao modesto Galitos. Se fosse precisa prova ou demonstração disso, os Jogos Juvenis do Barreiro aí estão na nossa história como a epítome do espírito desportivo barreirense.
É essa visão panorâmica da vida de um clube profundamente enraizado na comunidade que o Paulo Calhau nos dá neste livro O Barreirense no Portugal Democrático, que retoma o fio da meada que ele começou a desenrolar há 16 anos, com o seu primeiro livro sobre o tema: Prova DeVida – Estórias e Memórias do Meu Barreirense.
Bem hajas, Paulo, por mais este serviço que prestas ao clube, ao Barreiro e ao desporto.
Ao ler este livro do Paulo Calhau, dei comigo a recordar conversas, a que assisti pela mão do meu Pai, com velhas glórias do Barreirense, senhores já idosos nessa altura em que eu os escutava embevecido – como Pedro Pireza, Raúl Jorge ou o grande guarda-redes Francisco Câmara, não apenas grandes futebolistas mas também homens de uma enorme dimensão pessoal e cívica.
E fez-me também recordar as longas conversas que tive com o Prof. José Esteves, que conheci ainda gaiato nos Jogos Juvenis, no final dos anos 60, e com quem vim a privar como amigo muitos anos depois. Dizia-me ele, naquelas longas sabatinas na sua casa de Cascais e em passeios pelo Guincho, que no desporto barreirense tinha encontrado a mais harmoniosa fusão entre o atleta e o cidadão, o ideal helénico entranhado nos clubes da nossa terra.
Precisamente, este novo livro do Paulo Calhau coloca o Barreirense no processo histórico, no papel que lhe é devido de instituição de carácter social que participa na moldagem da sociedade barreirense.
O Barreirense no Portugal Democrático é um livro que nos transporta ao passado para nos projectar no futuro. Tem o dom de nos fazer percorrer a linha do tempo do clube ao mesmo tempo que faz desfilar perante nós a linha do tempo da sociedade, da vida política, da economia, sempre com os olhos no amanhã.
Com ele percorremos os altos e baixos das glórias e das derrotas no marcador, as descidas e subidas de divisão, a composição das equipas e os elencos directivos e técnicos, as contas tantas vezes periclitantes da tesouraria, as modalidades masculinas e femininas em que o clube brilha, a formação dos jovens, a ética desportiva, a poesia e a dramaturgia, a epopeia da obra construída, a cultura e a bibliofilia, o memorialismo e a Imprensa, a solidariedade social – e por entre tudo isso brota a vida barreirense e portuguesa dessas décadas, as reviravoltas políticas, os desastres naturais, as glórias e as desilusões, os heróis e os vilões de um tempo empolgante.
Só por isto já estaríamos em dívida com o Paulo Calhau. Mas ele faz mais, apresentando-nos este belo mosaico numa escrita escorreita, feita de rigor na investigação e de minúcia no registo, tudo agasalhado num grafismo elegante e sugestivo.
É por todas estas virtudes que o livro do Paulo Calhau se institui como fonte obrigatória para os futuros estudiosos do Barreirense, do Barreiro e do tempo que ele abarca.
Obrigado, Paulo, por tudo o que tens dado à nossa terra.
E perante esta obra, eu que sou confessadamente do Luso, só posso dizer: viva o Barreirense!
E viva o Barreiro, sempre!
Jorge Morais
N. R. – Para os leitores interessados informa-se que o livro está à venda em:
- Secretaria do Ginásio-Sede
- Ponto de venda dos Jogos da Santa Casa (Café do Ginásio-Sede)
- Auditório Municipal Augusto Cabrita (AMAC)
- Biblioteca Municipal do Barreiro
20.11.2024 - 17:16
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