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Com as alterações climáticas teremos mais pressão sobre o sistema de coletores
Serviços de Saneamento constituem o maior avanço médico dos últimos 166 anos.

Com as alterações climáticas teremos mais pressão sobre o sistema de coletores<br />
Serviços de Saneamento constituem o maior avanço médico dos últimos 166 anos. .Conferência na Moita “Afluências Indevidas: Desafios e Oportunidades”

Ontem, dia 19 de novembro, Dia Mundial do Saneamento Básico, decorreu a sétima conferência do ciclo “20 anos a tratar o Futuro da Região” sobre a temática “Afluências Indevidas: Desafios e Oportunidades”, dinamizada pela SIMARSUL em parceria com a Câmara Municipal da Moita.

O Auditório da Biblioteca Municipal Bento de Jesus Caraça na Moita, recebeu mais uma jornada do ciclo de conferências, realizadas no ano em que o Grupo Águas de Portugal assinala 30 anos e a SIMARSUL 20 anos. As conferências têm proporcionado um balanço sobre o trabalho realizado e apontado perspetivas perante os desafios que se colocam no futuro.

Solucionar os problemas da Estação Elevatória da Vinha das Pedras em Alhos Vedros

Carlos Albino, Presidente da Câmara Municipal da Moita, na abertura da sessão, sublinhou a importância das conferências e a atualidade dos temas que têm sido abordados e saudou a SIMARSUL pelos seus 20 anos. Sobre o tema da sessão recordou que “todos os autarcas, num momento ou outro, já se depararam com os problemas das afluências indevidas, seja por ligações ilegais, por características do solo, ou, também como frequente pelo estado de conservação da própria rede.”
O edil recordou que, em 2021, quando assumiu as funções na autarquia, encontrou redes de abastecimento e saneamento muito envelhecidas, praticamente sem manutenção, que tem vindo a causar grandes constrangimentos, alguns deles graves e, neste contexto, disse que, a Câmara Municipal da Moita “fez um enorme investimento de mais de 3 milhões de euros”.
Na sua intervenção alertou para a necessidade de solucionar os constrangimentos da Estação Elevatória da Vinha das Pedras, em Alhos Vedros, para proteger o meio ambiente, sendo necessário o compromisso de diversas entidades.

Reconhecer profissionalismo da equipa de gestão e profissionais da SIMARSUL

Alexandra Serra, Administradora da AdP - Águas de Portugal, saudou a equipa de gestão da SIMARSUL e o profissionalismo das suas equipas, e, para justificar as suas palavras, deu exemplos concretos de ações realizadas, que são inspiradoras, nomeadamente, na temática as afluências indevidas, intervenções para resolver problemas de águas salinas, caudais com cargas industriais, e, também caudais os pluviais – “a SIMARSUL tem exemplos fantásticos”, disse. Sobre as afluências salinas referiu que há vários anos que a SIMARSUL trabalha com os municípios do Barreiro e Seixal, para monitorizar, intervir, definindo onde colocar as válvulas, para evitar que a água com altos teores de sal afete a ETAR. No caso de afluentes industriais referiu o que classificou como exemplo notável a cooperação e colaboração com o sector industrial da Autoeuropa, Ermelinda de Freitas e Queijos de Azeitão. Ao nível das águas pluviais sublinhou o facto da Estação de Tratamento de Águas Residuais do Barreiro e Moita, ter uma linha dedicada ao tratamento dos caudais pluviais. A finalizar referiu que tem sido um bom trabalho realizado pelas equipas da SIMARSUL, mas, só foi possível com a colaboração dos municípios e do sector industrial.

Península de Setúbal era um território difícil

Na Mesa-redonda que se seguiu, de abordagem do tema da conferência numa visão de “Perspetivas do Passado ao Futuro”, na abertura, Sofia Martins, Secretária-Geral da Associação de Municípios da Região de Setúbal, que moderou o debate, recordou que acompanhou o nascimento e crescimento da SIMARSUL, e, recordou que antes da empresa surgir já existiam, pelas autarquias, preocupações, sobre o que era preciso projetar e construir para evitar as afluências indevidas. Sofia Martins referiu que a Península de Setúbal era um território difícil, por essa razão, desde a génese da SIMARSUL, existiu um trabalho de cooperação e empenho com os municípios.

Com as alterações climáticas teremos mais pressão sobre o sistema de coletores

Martins Soares, Presidente do Conselho Diretivo, da Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas, sublinhou que no ano 2022, segundo estimas da ERSAR, que 131 milhões de metros cúbicos, de afluências indevidas, chegaram às infraestruturas de tratamento, este “é um valor astronómico”, estes valores, se forem quantificados corresponderá a 60 milhões de euros – “todos os anos”, que, em princípio são cobrados aos municípios, e que podiam ser utilizados em investimentos, para evitar que afluências indevidas chegassem às infraestruturas. Por outro lado, perante a realidade dos tempos de hoje, com as alterações climáticas, como aconteceu agora em Espanha, devido à dimensão do sistema de coletores – “grande parte do sistema colapsou”. Salientou que, com as alterações climáticas teremos situações mais extremas que vão exercer mais pressão sobre o sistema de coletores.

Equipas dedicadas na matéria das afluências indevidas

Andrew Donnelly, “focal point” do Grupo AdP- Águas de Portugal para a estratégia de Perdas e de Afluências Indevidas, e Administrador da AdP - Internacional, referiu a importância de se analisar a temática das afluências indevidas, com base nos caudais e nas quantidades, quer das afluências, quer das perdas, sendo as perdas as mais óbvias, e mais fáceis de quantificar as perdas e os ganhos. Defendeu a necessidade de existirem equipas dedicadas na matéria das afluências indevidas, quer nos sistemas de alta, quer nos sistemas de baixa, pessoas que tenham conhecimentos e experiência que possam partilhar o seu saber às novas gerações.

Cadastrar e medir para que exista conhecimento das infraestruturas.

João Cabrita, Diretor do Departamento de Gestão por Contrato, da ERSAR - Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, salientou que é ao nível das águas pluviais onde o regulador poderá ter maior intervenção, porque o seu impacto influencia os sistemas – “a afluência de águas pluviais prejudica o sistema”, e influencia as tarifas. Recordou, também, que os níveis de pluviosidade têm uma relação direta – “porque quanto mais chove maiores são as afluências indevidas que chegam à ETAR”. Salientou que, sobre esta matéria, já existe algum enquadramento legal que prevê inclusão de sistemas pluviais na gestão das águas residuais, e, que, estas redes sejam tendencialmente redes separativas. Alertou para a necessidade de se cadastrar e medir, para que exista conhecimento das infraestruturas.

Tem que haver diálogo entre todos os intervenientes

Rita Salgado Brito, Investigadora no Núcleo de Engenharia Sanitária do Departamento de Hidráulica e Ambiente, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, defendeu que é necessário conhecer os sistemas e as consequências das afluências indevidas, conhecendo as consequências, temos que saber e resolver as causas. Neste contexto, defendeu que as equipas para abordagem das afluências indevidas devem ser interdisciplinares – “não ter só engenheiros sentados à mesa – é preciso ter a presença de pessoas do sistema de informação geográfica, da área financeira, da área jurídica, da área do planeamento. Sublinhou que o principal desafio, até em relação ao futuro, sobre as afluências indevidas passa por deixar de se ter uma “ação de bombeiros” e pensar em ações concertadas – “pensar o sistema como um todo”, na rede pluvial, na rede doméstica, os excessos de afluências, que não se resolve com o aumentar de diâmetros, porque as redes de água não conhecem fronteiras entre os municípios. Tem que existir diálogo com o planeamento urbano, com os espaços verdes – “tem que haver diálogo entre todos os intervenientes”.

Diagnóstico para se concretizar um cadastro exato do concelho

Marco Rodrigues, Diretor do Departamento de Gestão e Valorização Territorial, da Câmara Municipal da Moita, salientou que tem havido diálogo e cooperação com a SIMARSUL, recordou que há 20 anos falava-se na importância de separar as redes, existiam obstáculos, por exemplo das imobiliárias, e, não se fez investimento. Hoje, começamos a ter problemas de uma dimensão mais séria. Sobre as afluências indevidas sublinhou que “somos nós que pagamos isto tudo”. Alguém comentou que os custos refletem-se nos consumidores. Marco Rodrigues confirmou – “é verdade”. Referiu que, está a ser feito um diagnóstico para se concretizar um cadastro exato do concelho e comentou que as equipas da autarquia têm que responder a todas as tarefas, da gestão à manutenção.

Município sozinho não consegue realizar os objetivos

Rui Teixeira, Diretor do Departamento de Águas, Higiene Urbana e Atividades Reguladas, da Câmara Municipal do Barreiro, sublinhou que existe um plano para o concelho do Barreiro, desde 2017, mas para o realizar são necessários investimentos de grande monta, perspetivando cerca de 6 mil milhões de euros de investimento, portanto, sem apoios o município sozinho não consegue realizar os objetivos. Referiu que a autarquia procede à permanente atualização do cadastro, e tem uma estratégia de requalificar as redes sempre que se concretizam intervenções urbanísticas. Aposta, igualmente, na manutenção das redes e equipamentos eletrónicos.

Serviços de Saneamento constituem o maior avanço médico dos últimos 166 anos

Seguiu-se uma breve sessão de perguntas e respostas, e Raúl Tavares, Diretor do Jornal SemMais, na sua qualidade de Relator Convidado, apresentou as ideias força das várias intervenções, sublinhando a qualidade do debate e a excelência da moderadora Sofia Martins.

Francisco Narciso, Presidente do Conselho de Administração, encerrou os trabalhos. Recordando que, “hoje, é o dia Mundial do Saneamento Básico, pelo que é ainda mais oportuno estarmos aqui a discutir um tema tão atual para estes serviços, que constituem o maior avanço médico dos últimos 166 anos, segundo um inquérito de 2007 a médicos e cientistas”.
Francisco Narciso, acrescentou que o trabalho realizado pela SIMARSUL em pareceria com os municípios e tecido Empresarial da Região “é indiscutivelmente um sucesso inegável, visível nos progressos obtidos, na melhoria da saúde pública, do bem-estar das populações e do desenvolvimento, competitividade e sustentabilidade do nosso território, hoje tão evidentes quando observamos atentamente as massas de água, é um desafio constante e resultou da combinação de várias abordagens”.

A próxima conferência está agendada para o dia dezembro, no concelho de Setúbal.

20.11.2024 - 16:58

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