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Carlos Matias Ramos na sessão de homenagem no Seixal
“Creio no amor próprio, na verdadeira amizade, na honestidade, valores que nos dão paz e segurança”

Detesto a hipocrisia, a incompetência e a mentira que se têm desenvolvido, como ervas daninhas, no nosso país. Receio a pós-verdade, uma praga para a qual não temos o devido antídoto", afirmou Carlos Matias Ramos.
Tal como noticiado pelo «ROSTOS», realizou-se no passado dia 24 de Janeiro, no salão nobre da Sociedade Filarmónica União Seixalense «Os Prussianos», uma sessão de homenagem ao Eng.º Carlos Matias Ramos, por ocasião do seu 80.º Aniversário. A homenagem foi uma organização conjunta da Câmara Municipal do Seixal, da Ordem dos Engenheiros e da «Plataforma Cívica BA6 Não».
Estiveram presentes, numa sessão excelentemente organizada, dezenas de pessoas, enchendo completamente o salão nobre da secular colectividade seixalense. A Comissão de Honra da Homenagem, constituída para o efeito, foi composta por quarenta prestigiadas personalidades, nacionais e locais, dos mais diversos sectores de actividade, entre elas várias individualidades do Barreiro.
No final das várias intervenções de exaltação da vida e obra do prestigiado homenageado, usou da palavra o aniversariante para, contendo a sua emoção com a presença e afecto de tantos amigos e admiradores presentes, agradecer a todos os presentes a expressiva e tocante homenagem que lhe estava a ser feita.
O «ROSTOS» reproduz integralmente a seguir o importante e sentido discurso de agradecimento do Eng.º Carlos Matias Ramos.
DISCURSO DO HOMENAGEADO, ENG.º CARLOS MATIAS RAMOS
Senhor Presidente da Câmara Municipal do Seixal, Dr. Paulo Silva,
Senhor Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Eng.º Fernando Almeida Santos,
Senhor Bastonário da Ordem dos Economistas, Professor António Mendonça,
Senhores Presidentes das Câmaras Municipais de Benavente, Palmela, Sesimbra e Setúbal.
Permitam-me que envie o meu reconhecido obrigado ao Professor António Avelãs Nunes, Ilustre Pinhelense. A sua presença, que muito me prestigia, recorda-me a terra que me viu nascer. Ninguém sai de onde partiu. Pinhel está nas nossas memórias.
Uma saudação especial e o meu obrigado a todos os que me acompanham nesta sessão e, em particular, à equipa da Câmara Municipal do Seixal que, de forma empenhada, se envolveu na preparação do evento.
Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, numa lista tão extensa e recheada de pessoas notáveis, que se dignaram participar, ou que, impossibilitados de usufruir deste almoço, me concederam, no entanto, o privilégio de pertencer à Comissão de Honra, envio o meu bem-haja. Estão na minha memória.
Expressar gratidão é uma forma especial de celebrar os momentos importantes. É difícil explicar a profundidade da gratidão que sinto ao ouvir cada palavra de apoio, orientação, cada sorriso e gesto de amizade e carinho vindos de todos, que recordarei para o resto da minha vida.
Permitam-me que manifeste o meu reconhecimento particular aos amigos José Encarnação e Joaquim Santos, ex-presidente da Câmara Municipal do Seixal, as faces mais visíveis na promoção desta homenagem, só possível também com o apoio empenhado do Sr. Presidente Câmara Municipal do Seixal e do Sr. Bastonário da Ordem dos Engenheiros, de quem tenho a honra de ter sido Mandatário Nacional na candidatura ao primeiro mandato e de também o ser na candidatura para o segundo.
Sinto igualmente a obrigação e a necessidade de fazer uma referência especial aos amigos Jaime Valadares, Carlos Brás e José Encarnação que, como os três mosqueteiros e eu, como D’Artagnan, abraçámos a cruzada com o lema “um por todos, todos por um”, na defesa da solução para o NAL no CTA em que sempre acreditámos de forma consciente e consistente. Sempre no pro-bono.
Numa luta, que por vezes vários amigos me disseram para desistir, que era desigual e que, ao contrário de Dom Quixote, não estaria na procura de uma mulher imaginária, a Dulcineia, mas lidando com uma realidade não virtual, bem palpável.
Realidade materializada num “exército” com poder e com objetivos e interesses bem claros, legítimos, mas que não coincidem com o interesse público, quase sempre mal disfarçados, dispondo de instrumentos aos quais só uma resistência, com a determinação e a consciência de que estávamos certos na defesa dos interesses do país, poderia alcançar.
Só a crença de que estávamos no bom caminho, na defesa de uma solução com racionalidade estratégica, económica, financeira, ambiental, de ordenamento do território, é que sustentou a resistência ao tal “exército”.
Na retaguarda desta luta não estivemos sós. Tivemos diversos apoios, permitindo-me destacar o papel da Plataforma Cívica “Aeroporto na BA6 Montijo - Não” que integrei desde o princípio. Sem ela muitas lutas não teriam tido o impacto que tiveram.
Uma palavra amiga para o Capitão Luís Chucha que diariamente nos presenteia com textos cuidados sobre a importância do NAL e da sua localização no CTA.
Não podemos, no entanto, baixar os braços. Nada está totalmente conquistado. A história recente tem-nos mostrado que decisões de um governo, tomadas num dado período político, são alteradas com facilidade no seguinte.
Permito-me recordar que o primeiro artigo que escrevi na defesa da localização do NAL no CTA, porque pressenti o que estava a acontecer, foi publicado no EXPRESSO de 19 de novembro de 2016. Em diversos jornais e revistas publiquei posteriormente 36 artigos sobre o tema. Em todos mantive um propósito: basear-me apenas em estudos e dados credíveis e consolidados e não em “achismos”, falácias e interesses facilmente identificáveis.
É minha convicção que só com uma lógica de continuidade e de estabilidade, sustentada em soluções enquadradas em Planos Estratégicos Nacionais de longo prazo, é que se garante uma política de Estado e não de governos. Se o país dispusesse de um Plano Nacional Estratégico Aeroportuário ter-se-ia evitado tanta polémica, tanta falácia, tanta decisão e contra-decisão, tanta indecisão, e o NAL estaria construído.
Para a resolução de problemas específicos que vão surgindo, evidenciando desconfiança nas instituições públicas existentes e induzindo a sua desvalorização, os governos têm recorrido a nomeações de comissões, estruturas de gestão e grupos de trabalho, ou seja, estruturas não orgânicas, de apoio à decisão, que se esvaziam com o tempo, sem história e sem continuidade na transmissão do conhecimento. Recordando o título do filme “E Tudo o vento levou” - A todas o tempo levou.
Nesta linha, o Conselho de Ministros aprovou, em 9 de janeiro deste ano, a criação de uma Estrutura de Gestão e Acompanhamento dos Projetos de Aeroportos (EGAPA) que: “tem como principal objetivo assegurar o acompanhamento técnico, jurídico e financeiro das obrigações contratuais decorrentes dos Contratos de Concessão Aeroportuários celebrados com a ANA – Aeroportos de Portugal” (fim de citação). Outras foram anteriormente criadas. Com exceção da CTI alguém se lembra das outras?
Não teria sido útil para o País dispor de uma estrutura orgânica bem estruturada e competente para responder, a todo o tempo, ao objetivo estabelecido nesta Resolução do Conselho de Ministros, existente desde a assinatura do contrato? Convido-vos a ler o Relatório recentemente apresentado pela ANA/Vinci. É elucidativo e previsível a tática que lhe está subjacente. Não critico a Vinci. Faz o que lhe deixam fazer na procura de maximizar o seu lucro. Critico a fragilidade e dependência do Estado como concedente.
A data em que foi criada a Estrutura de Gestão e Acompanhamento e os prazos estabelecidos para dar resposta às propostas a ser apresentadas pela ANA, fez-me recordar os tempos em que jogava futebol na equipa da minha terra. Os treinos consistiam, muitas vezes, nuns chutos à baliza cinco minutos antes do jogo começar. Mas tinha árbitro que percebia as regras do jogo e os truques dos jogadores.
Registo, no entanto, o empenho e determinação do atual Ministro das Infraestruturas e da Habitação na procura de uma solução para um problema muito complexo e cheio de alçapões que se vem arrastando desde a assinatura do Contrato em dezembro de 2012.
Caros amigos. Destaco a importância da amizade, salientando que “amigo é coisa para se guardar a sete chaves". É o que farei em relação aos vários amigos sinceros que tive o gosto e a felicidade de conquistar. A Vossa presença é a prova provada desta situação.
Citando Vinicius de Morais. “A gente não faz amigos, reconhece-os”.
Num outro contexto refiro o Papa Francisco que, na sua exortação Evangelii Gaudium, expressou o seguinte: Ser cidadão fiel é uma virtude e a participação na vida política é uma obrigação moral.
Sinto que ao longo do meu percurso profissional e cívico procurei cumprir com a minha obrigação moral de dedicação à causa pública.
Como engenheiro sempre entendi que a função “civilizadora” da profissão que entusiasticamente abracei, tem como determinante o desenvolvimento do progresso material e social, aproximando os homens e as coisas ao serviço da comunidade, para dar mais valor à vida.
Não tenho vocação para a atividade, que considero como a mais nobre de todas, de ser um político ativo obrigatoriamente dedicado à defesa dos interesses do país. Sinto-me, no entanto, com a consciência tranquila pela atividade que desenvolvi na defesa da causa pública.
Há coisas na vida que não se repetem. Surgem como se fosse a primeira vez.
Teve razão o poeta britânico Lord Byron quando escreveu: “A grande finalidade da vida consiste em despertar sentimentos”.
À medida que os anos passam, mais valorizamos homenagens como esta. São o que se pode designar por mimos que nos enchem a alma.
Nos últimos anos tenho recebido vários mimos, sob a forma de prémios e homenagens. Esta ficará igualmente para sempre na minha memória.
Neste momento gostaria de referir alguns valores e crenças que cultivo e que têm contribuído para ter uma vida plena do ponto de vista pessoal e profissional.
Destaco a importância dos afetos. Valorizo o amor pela companheira de uma vida, que infelizmente passa por momentos difíceis e que não me pôde acompanhar nesta homenagem. Valorizo o amor dos pais pelos filhos e dos avós pelos netos. À medida que envelhecemos são o elixir da nossa vida.
Quanto aos valores. Creio na tolerância e na certeza de que como cidadãos temos por obrigação, como refere o Papa Francisco, colocar a nossa inteligência e o conhecimento ao serviço da sociedade, ou seja, do bem-estar das pessoas.
Temos a obrigação de contribuir para uma sociedade mais eficaz, assente na realidade de uma economia não virtual, que se traduza em ”pôr os pés na terra”, assumindo um papel determinante no caminho para a economia real.
Uma economia valorizadora no conhecimento e não uma economia baseada nos conhecimentos, em lobbies não controlados.
Uma sociedade em que as pessoas são distinguidas pelo seu mérito, pelos seus padrões de ética, de isenção e idoneidade e capacidade profissional, sempre ao serviço do país.
Creio no amor próprio, na verdadeira amizade, na honestidade, valores que nos dão paz e segurança. Não acredito em verdades absolutas, em dogmas inquestionáveis.
Creio no conhecimento que vamos adquirindo com estudo e trabalho ao longo da vida, para dele extrair o melhor para o desempenho da nossa atividade como cidadãos.
Detesto a hipocrisia, a incompetência e a mentira que se têm desenvolvido, como ervas daninhas, no nosso país. Receio a pós-verdade, uma praga para a qual não temos o devido antídoto.
Os 80 anos ainda não me pesam muito.
A vida é mais calma com 80 anos, é mais cansativo sair de casa, exige mais esforço. Já não aceitamos aquilo que nos faz mal e ficamos apenas no que nos faz bem.
Como escreveu Mia Couto “a vida é a estrada andando sob o pé do tempo”.
Olho para trás e vejo uma estrada onde tenho caminhado, repleta de experiências, desafios, batalhas, conquistas, incertezas, ilusões, desilusões e aprendizagens.
Há coisas que me têm acontecido que são boas por alguns instantes, outras por algum tempo. Só algumas são para sempre.
Perante todos os que me honraram com a vossa presença, declaro solenemente que a homenagem de hoje ficará para sempre na minha memória, constituindo um dos melhores presentes de aniversário da minha vida.
A todos um grande e afetuoso abraço. Muito Obrigado.
Carlos Matias Ramos
Seixal, 24 de janeiro 2025
30.01.2025 - 21:04
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