as escolas
Na Escola Secundária de Casquilhos - Barreiro
Conversas com José Pacheco Pereira
. Educar os jovens para lidar com a tecnologia
José Pacheco Pereira, conhecido historiador, cronista e político, foi o convidado desta edição, numa organização liderada pelas professoras Maria Emília, Marília Constantino e pelo professor estagiário Pedro Gonçalves.
Antes do início formal do evento, em tom descontraído, Pacheco Pereira partilhou curiosidades sobre a sua carreira. “Sou licenciado em Filosofia, escrevi sobre História e dei aulas de Sociologia. Tudo errado”, comentou com humor. Recordou também episódios marcantes, como a sua detenção na fronteira da Rússia com Mário Soares e a transformação vivida no dia 25 de abril de 1974, afirmando: “De manhã era uma pessoa e à tarde outra.”
Os alunos, ainda a ocupar os lugares na sala disposta em formato de hemiciclo, foram recebidos pela diretora do agrupamento, Professora Luísa Dias. Na sua intervenção, destacou a importância da reflexão sobre a liberdade, a democracia e as redes sociais, especialmente entre os jovens, reiterando o papel da escola na formação integral e na promoção de uma sociedade democrática.
Coube à professora Maria Emília a tarefa de apresentar o convidado, destacando os aspectos mais relevantes da sua trajetória. O debate teve início com uma questão provocadora: qual o impacto das redes sociais e dos algoritmos na liberdade individual?
Para abordar o tema, Pacheco Pereira levantou-se, procurando uma maior proximidade com os estudantes. Explicou que os algoritmos não são novos, mas que a inteligência artificial adicionou um elemento decisivo: a capacidade de decisão sobre os dados. “O grande desafio da inteligência artificial não está na máquina, mas em nós mesmos”, afirmou. Segundo ele, a tecnologia revela que a mente humana pode ser reproduzida de forma mais simples do que imaginamos.
O historiador fez uma análise histórica, comparando os desafios atuais aos provocados por figuras como Copérnico, Darwin e Freud, que também abalaram paradigmas da humanidade. Para os jovens, usou exemplos concretos, como o TikTok, que, na sua visão, limita a liberdade dos utilizadores ao manipular o seu tempo e a reduzir o vocabulário, essencial para a comunicação. “Quem tem lábia, safa-se melhor”, observou, enfatizando a necessidade de se ter vida além do telemóvel.
Ao tratar do papel da escola, Pacheco Pereira destacou a necessidade de educar os jovens para lidar com a tecnologia, preservando a privacidade e estimulando o pensamento crítico. Nos momentos finais, foi questionado pelos alunos sobre como garantir decisões informadas em tempos de desinformação. “Ler jornais, ir às fontes, corroborar dados”, respondeu, reforçando a importância de uma postura crítica.
Quando provocado sobre a manipulação da imprensa, defendeu a busca de múltiplas fontes e a aquisição de conhecimentos prévios que permitam identificar possíveis distorções. “São os conhecimentos que nos permitem desconfiar”, afirma. Reconhece a dificuldade, pois os jovens crescem num tempo rápido e têm uma vivência do tempo que impede a atenção.
De novo uma questão: se o pensar demora tempo, como fazer os jovens pensar? Conclui dizendo: através da provocação. Nesse mesmo instante pede a intervenção de um aluno e através do role play de uma situação de tortura pela PIDE (ensinada pela Gestapo) deixa antever a lição da provocação reflexiva: o pensamento acompanhado pela ação entre o presente e o passado.
P. G.
08.12.2024 - 21:36
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