reportagem

Barreiro - Num espaço degradado de droga e prostituição
Nasceram 42 hortas comunitárias na «Hortinha da Vila Chã»

Barreiro - Num espaço degradado de droga e prostituição<br />
Nasceram 42 hortas comunitárias na «Hortinha da Vila Chã» Era uma zona degradada, ocupada por barracas, um centro de consumo e venda de drogas, área de prostituição.
Hoje, no mesmo terreno, são 42 hortas comunitárias que para além de uma ocupação salutar é também uma ajuda para fazer face aos custos de vida.

“Para mim, o importante é que a Horta se mantenha assim, e, que isto não volte atrás ao que era. O que aqui existia, não valorizava esta urbanização”, sublinha Isabel Ferreira, dinamizadora do projecto.

Tudo começou há cerca de ano e meio. Os moradores estavam indignados, Ali, naquele terreno frente à urbanização da Vila Chã, de suas casas observavam diariamente um ambiente degradante que regularmente gerava conflitos.
A Câmara Municipal do Barreiro efectuou uma limpeza no terreno, uma operação regular para permitir acesso a valas reais e retirar os detritos.
Ali, depositavam detritos, monos, restos de construção civil.

Vamos criar ali uma Horta Comunitária

Foi, após uma operação de limpeza, que Isabel Ferreira lançou a ideia de se concretizar uma ocupação do tereno pelos moradores.
“Vamos criar ali uma Horta Comunitária”, foi o desafio.
Alfredo Sérgio Fernandes, de 59 anos, trabalhador da construção civil, natural de Carregal do Sal, que vive no Barreiro há mais de 30 anos, foi o primeiro aderente.
Todos os dias após o trabalho e aos fins-de-semana trata da sua horta.
“Veja, aí, essas batatas que recolhi hoje”, refere.
“Gosto destas coisas, gosto de plantar” , salienta.
“Isto era um canavial abandonado e muito mal frequentado. Quando comecei a vir para aqui com a minha mulher, tratar da minha horta, as pessoas se calhar até pensavam com maldade”, recorda
O seu espaço é exemplar, para além da horta, tem uma mesa e um espaço de convívio.
Uma maravilha. O campo no centro de um espaço urbano.
Quem passa na via rápida – IC 21 – nem se apercebe que, ali, existem 42 hortas comunitárias.

Isto aqui era degradante

José Caramelo, proprietário de um café- restaurante, ali perto, na zona do ringue da Vila Chã, estabelecido há cinco anos, refere ao jornal «Rostos» - “Isto aqui era degradante. Era um centro de drogas. Várias vezes se registavam assaltos às casas e às pessoas”.
“Vinham do Barreiro até aqui para despejar o lixo de obras e os monos”, salienta.
“Quando havia as campanhas eleitorais e vinham por aqui os candidatos de todas as forças politicas, eu falava-lhes desta situação. Nada resolviam”, comenta José Caramelo.
“Foi graças à carolice desta senhora, que se pode dizer que isto, agora, está muito melhor. Deve-se bastante ao trabalho desta mulher, a D. Isabel”, refere.

Não me faltam couves, nem tomates

O Senhor Pinto, nasceu em Moçamedes, Angola, veio para Portugal após o 25 de Abril e veio viver para a Vila Chã. Bancário de profissão, agora reformado, foi outro dos residentes que aceitou o desafio.
“Gosto disto. Dedico-me os meus tempos à horta e divirto-me. Não me faltam couves, nem tomates”, diz-nos e sorri.
«A “Hortinha da Vila Chã” arrancou há um ano e meio, o importante foi motivar as pessoas para ocupar o espaço e afastar dali aqueles que o utilizavam para venda de droga e zona de prostituição. Dava uma imagem muito negativa à nossa urbanização. Era uma situação muito complicada”, salienta Isabel Ferreira, a impulsionadora do projecto.
“Todos os executivos da Câmara, quer da CDU, quer do PS, tiveram conhecimento desta situação e não sabiam como resolver”, comenta.

Dividimos o terreno. Criámos algumas regras

“Quando a Câmara deitou abaixo as barracas e criou um carreiro no terreno, o espaço ficou sem lixo e mais amplo. Lancei a sugestão. Dividimos o terreno. Criámos algumas regras. Não há lixos. Não há barracas. Todos concordaram e quase todos respeitam”, sublinha Isabel Ferreira.
“A vereadora Sofia Martins já cá esteve a ver e técnicos da Câmara, disseram que – ‘está um trabalho bem feito. Não se opõe que continue, desde que se mantenha assim, bem organizado e tratado.
Isto é um terreno municipal. A Junta de Freguesia de santo António da Charneca também tem a mesma posição. Concorda.” refere Isabel Ferreira.

Eu gosto de trabalhar para a comunidade

O terreno está muito bem organizado, com zonas comuns. A partir de uma fonte natural a água corre por canais naturais para regas. Foram abertos dois poços.
“Dou muito trabalho e muito tempo a acompanhar esta Horta. Eu gosto de trabalhar para a comunidade, mas não é fácil”, refere, mas, sente-se no seu olhar alguma tristeza, fruto de algumas situações de incompreensão.
“Para mim, o importante é que a Horta se mantenha assim, e, que isto não volte atrás ao que era. Há um grupo de 6 ou 7 pessoas que procura dar o seu contributo nesse sentido. O que aqui existia, não valorizava esta urbanização”, sublinha.

Um exemplo modelo para outros projectos

Isabel Ferreira, convida-nos a visitar as hortas, apesar da chuva lá vamos, aqui um utente, ali, outro, um grupo de familiares visita outro utente e abastece os cestos.
Isabel Ferreira está feliz. Mostra-nos os pequenos recantos. Mini jardins, no meio das hortas. Bancos. Espaços de lazer.
Nota-se o brilho de felicidade nos olhos de Isabel Ferreira, funcionária da Câmara Municipal do Barreiro que dedica seus tempos livres para que esta – Hortinha da Vila Chã – se mantenha pujante e seja um espaço comunitário exemplar – “pode ser um exemplo modelo para que outros projectos possam nascer”, comenta Isabel Ferreira.

VER FOTOS

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10153532198802681.1073742409.374205877680&type=3

07.05.2016 - 17:41

Imprimir   imprimir

PUB.

Pesquisar outras notícias no Google

Design: Rostos Design

Fotografia e Textos: Jornal Rostos.

Copyright © 2002-2025 Todos os direitos reservados.