reportagem
BARREIRO - Apresentação do livro «Cabanas Entre os Seus» de Jorge Morais
Manuel Cabanas - um homem de uma grandeza absolutamente singular

No Auditório Manuel Cabanas, na Biblioteca Municipal do Barreiro, realizou-se a apresentação do livro «Cabanas Entre os Seus», do jornalista e escritor Jorge Morais, que na sua juventude cultivou uma amizade profunda com o Mestre Cabanas.
Este evento foi uma iniciativa da associação cultural VULTOS, em pareceria com a Câmara Municipal do Barreiro, com a finalidade de assinalar o 120º aniversário do nascimento de Manuel Cabanas.
A sessão abriu com a projecção de um vídeo de apresentação do quadro- desenho de Vasco Pinho Ferreira, editado em homenagem à celebração do 120º aniversário. Uma obra que coloca Manuel Cabanas, num café, rodeado de personalidades e situações que marcaram a sua vida.
Espaço Memória – “onde está a memória da nossa cidade”.
Luis Victorio da associação VULTOS moderou a sessão e apresentou a mesa composta por João Soares ( filho de Mário Soares), Frederico Rosa, Presidente da Câmara Municipal do Barreiro e do autor da obra, Jorge Morais.
Referiu que a associação VULTOS, composta por voluntários, desenvolve a sua acção em prol da cultura e pretende cooperar com o Espaço Memória – “onde está a memória da nossa cidade”.
Sublinhou que “a memória da cidade, é a memória de nós todos, são os diversos barreirenses que fazem o todo da cidade, a nossa terra, uma história que está na casa de muitos de nós, e, nós não a queremos perder.”
Recordou que, já em 1930, Azevedo do Carmo, pai de Isabel do Carmo, lutava para que existisse um Museu no Barreiro – “está a fazer quase 100 anos, talvez a gente consiga, porque o Alqueva demorou 50 anos a fazer, o aeroporto outros 50, talvez esteja na altura de a gente começar a pensar nisso seriamente”.
Um homem de uma grandeza absolutamente singular
João Soares, salientou que a obra de Jorge Morais é “uma biografia interessantíssima sobre a vida de Manuel Cabanas”, sente-se que “ele escreve com prazer sobre Manuel Cabanas, e, assume-se, e bem, como um discípulo de Manuel Cabana. A única coisa que posso dizer aqui é a minha inveja de não ter tido a oportunidade de ser um discípulo de Manuel Cabanas. Conheci-o. Convivi com ele, admirei-o sempre. Continuo a admirar a sua memória, uma memória que deve ser respeitada e deve ser venerada, porque é um homem de uma grandeza absolutamente singular, que nunca quis nada para si, o que começa a ser uma raridade. Devemos ter em conta estes exemplos”.
Um livro que coloca esperança no futuro.
João Soares, recordou que Manuel Cabanas, não tendo nascido no Barreiro é uma figura do Barreiro, nasceu em Vila Real de Santo António, Cacela, mas tinha uma relação afectiva muito grande com esta terra – “foi um homem que se envolveu em muitas lutas”, acrescentou que tendo nascido em 1902 – “ele é um homem do século XX”.
Sublinhou que “era um homem notável”, um homem que desenhou e que era um grande gravador, “um homem que se envolveu em civicamente em praticamente tudo, ele faz a ligação de vários universos com a tradição republicana e maçónica, que antecedeu a República”.
Recordou, que dois de seus avós, materno e paterno, foram companheiros de Manuel Cabanas, na primeira revolta contra a ditadura a 7 de Fevereiro de 1927.
Salientou que Manuel Cabanas, era um homem – “de um encanto fantástico, de uma honestidade, de uma simplicidade, de uma envergadura, de uma fidelidade às suas convicções que é um grande exemplo”.
“Este livro, para além de tudo mais, é um livro que coloca esperança no futuro.”, disse.
Um homem de princípios e ideais
Jorge Morais, referiu não gostar de apresentação de livros, porque quem escreve um livro já fez o suficiente, e, sobre o seu livro deixou a nota para que ser lido, porque Manuel Cabanas é um homem que nasceu com a electricidade e morreu na era da Internet- “um homem que atravessa o século XX empenhado em tudo que acontece no século XX – “é sobretudo um homem de princípios e ideais, que vai mantê-los ao longo de todas a vida, com uma capacidade extraordinária de colaboração com outras pessoas e com outras correntes, trabalhou com anarquistas, que era a sua família de origem, ele vem do sindicalismo anarquista, quando ele chega ao Barreiro o Partido Comunista praticamente não existe, só a partir da reorganização de 41, é que começa a ter influência no Barreiro, até então, toda a tradição de luta operária no Barreiro é anarquista e anarco-sindicalista. O Cabanas vem dessa tradição, é nessa tradição que ele se afirma, primeiro no sindicato e depois na vida politica em geral”.
Envolveu-se na revolta de 7 de fevereiro de 1927
Jorge Morais recordou a cumplicidade de Manuel Cabanas com o Almirante Cabeçadas, um nome do 5 de Outubro e também do 28 de Maio, que se afasta da ditadura militar e do Estado Novo, sendo esta cumplicidade que o leva a envolver-se no 7 de fevereiro.
Ele vai a Vale de Zebro, é um dos três revolucionários do Barreiro que vai a Vale de Zebro, numa tentativa de subverter a Escola de Torpedos, mas não chega lá, são interceptados em Coina e preso pela GNR.
Recordou que Manuel Cabanas foi preso para o Quartel de Campo de Ourique, mas não aparece nos autos, nem é condenado, e não foi para Timor ou para Angola, como outros foram, porque, naquela guarnição prestava serviço militar um então jovem tenente, Fernando Silva Pais, do Barreiro, (que anos depois foi Director da PIDE/DGS) que lhe abriu a porta das traseiras do quartel – “uma história que demonstra a cumplicidade que existia entre as pessoas do Barreiro”.
Referiu, igualmente, a cooperação que Manuel Cabanas manteve com Vicente Campinas, militante do PCP, na passagem de pessoas no Guadiana de uma margem para outra, para evitarem a prisão.
Jorge Morais salientou que toda a história da vida de Manuel Cabanas está entrosada com a história e com a vida de Portugal.
Jorge Morais recordou que desde os 14 anos começou a andar com o Cabanas e com ele partilhou a vida.
Referiu ainda que Manuel Cabanas foi um maçon, que não tem fotografias no Palácio Maçónico, no Bairro Alto – “mas já há maçons portugueses que usam, como nome simbólico, Manuel Cabanas”.
Espaço Memória vai sair da Baía do Tejo
Frederico Rosa, presidente da Câmara Municipal do Barreiro, referiu que uma missão da autarquia é ensinar e perpetuar a nossa história, principalmente as nossas figuras, este tem sido o trabalho de – “tornar os nossos arquivos em arquivos vivos”.
Recordou a colaboração na edição das biografias de Chalana, assim como de Leal da Silva, e, nesta edição de Manuel Cabanas – “histórias que fazem parte da nossa grande história”.
O autarca divulgou que o Espaço Memória vai sair do território do Parque Empresarial da Baía do Tejo, e, vai ser instalado num antigo edifício ferroviário, junto ao Barreiro A.
Agradeceu o contributo da associação VULTOS na edição da biografia de Manuel Cabanas e outras que irão ser editadas.
António Sousa Pereira
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05.12.2022 - 19:02
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