reportagem
Pacheco Pereira na Escola Superior de Tecnologia do Barreiro
“Do ponto de vista da história, nada está garantido, tudo é surpresa”
. .A história ensina que nada é previsível
“O mundo da COVID é o mundo em que nós vivemos, é um mundo cujas consequências ainda estão longe de ser inteiramente conhecidas.”, disse Pacheco Pereira, na abertura da Exposição “aC/dC – Tempos de Pandemia”, patente na Biblioteca da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro.
José Pacheco Pereira salientou que tem existido uma permanente colaboração entre a associação Ephemera e o mundo universitário.
Referiu que neste período do 25 de abril – 1º de maio, a Ephemera vai realizar 11 exposições, por diversos pontos do país, sendo uma delas no Barreiro.
Nos anos 2022 e 2023 recolheu cerca de 300 espólios
O fundador da Ephemera salientou que o arquivo da associação tem 6 km de distância, fazem com que ele seja em dimensão “o maior arquivo privado de Portugal, e, provavelmente o maior arquivo privado da Europa”, contém cerca de 250 mil documentos, dezenas de milhares de fotografias, dezenas de milhares de cartazes, dezenas de milhares de desenhos, também milhares de objectos, e, livros de natureza cientifica, literária, histórica.
Recordou que, nos anos 2022 e 2023, a associação recolheu cerca de 300 espólios, os quais salientou “são elementos fundamentais para o estudo da história, e, nalguns aspectos mudam a história”, permitindo conhecer muitos outros aspectos do quotidiano.
“Este é um arquivo das pessoas importantes e das pessoas comuns”, disse, acrescentando é um arquivo de César e do cozinheiro.
Há muitos aspectos da vida quotidiana dos portugueses, nos últimos 150 anos, que a Academia ignora, disse.
A Europa não encontrou finalmente a Paz.
Dirigindo-se directamente aos estudantes da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, Pacheco Pereira, disse “uma coisa vos posso dizer não ter uma vida fácil”.
Referiu que o século entrou de uma forma muito complicada- “não é nada de novo na história” – salientando que a sua geração, até aos 40 anos não conheceu nenhuma guerra na Europa,- “esta foi uma situação, absolutamente excepcional, nunca aconteceu estarmos 40 anos sem guerras, de 1945 até ao final da década de 80”, altura em que começou a guerra nos Balcãs.
“Um dos grandes erros que se comete é dizer que a Europa finalmente encontrou a Paz. Isso não acontece. A Europa não encontrou finalmente a Paz. Teve um período excepcional de Paz”, disse.
A história ensina que tudo é uma surpresa
“Quando digo que vão viver e crescer num ambiente muito difícil, tem a ver com aquilo com que nós entramos no século”, comentou, para acrescentar que “a história ensina-nos pouca coisa, mas há uma coisa que a história ensina, é que nada é previsível, tudo é uma surpresa”.
Salientou que “os verdadeiros momentos da história”, residem no facto de “a história ser feita de surpresas”, e, neste contexto referiu que a primeira surpresa que tivemos no início do século XXI foi o COVID, sublinhou que ao longo da história foram registadas diversas pandemias e, todas elas, tiveram a mesma característica “apareceram de repente, apareceram sem ninguém esperar”, e, disse, de um modo geral de uma forma que “criou uma enorme perturbação”.
“As pandemias e epidemias têm todas no seu curriculum matar milhões de pessoas. As que não matam como é o caso do ébola, em África, não matam porque são rápidas a matar os infectados, e, portanto as condições de transmissibilidade não são as ideais.
Agora, quando elas se desenvolvem lentamente, quando as pessoas infectam um número significativo de outras pessoas, sem saber, sequer, que estão doentes, então, temos um problema de grande gravidade. Neste caso as epidemias passam a pandemias.”, referiu Pacheco Pereira.
Recordou que tivemos uma pandemia em 1918, a Gripe Espanhola – a gripe pneumónica, que deve ter morto, na Europa, cerca de 25 milhões de pessoas, num tempo que a Europa estava em guerra, que existiam situações de fome – guerra, fome, doença – gerou situações de populações deprimidas, dado que, por vezes, num único combate, aldeias portuguesas ficaram sem homens.
“Estes acontecimentos da história têm efeitos muito para além do número de mortos, têm efeitos sociais, têm efeitos políticos”, disse.
Referiu como consequência destes acontecimentos as revoluções na Alemanha, na Hungria, ou, a Revolução Russa, disse que, um pouco por toda a europa, existiram movimentos de revolta gerados pela depressão, pela má vida, que foi fruto da guerra e da pandemia.
A maior quarentena da história da humanidade – o confinamento
“O COVID tem aspectos novos, tem um enorme impacto social, atinge os mais velhos, mais que aos mais novos, isso, quer se queira, quer não, perturba o funcionamento da sociedade. É de fácil transmissão e gerou, ela própria, mecanismos de contenção que nunca se tinha visto na história”, disse.
Recordou que em 2019, 2020, 2021 e 2022, assistimos à maior quarentena da história da humanidade – o confinamento.
A dimensão do confinamento, que é uma medida de emergência, porque a dada altura, não se sabia como controlar o COVID foi – “a bomba atómica do confinamento”, disse.
O mundo da COVID é o mundo em que nós vivemos
Pacheco Pereira, salientou que na exposição, estão patentes documentos que demonstram que existiram –“situações de perturbação no funcionamento das sociedades”, por exemplo, o impacto dos movimentos contra as vacinas, o impacto nas indústrias da noite, da diversão, dos espectáculos, donde as pessoas foram afastadas pelo COVID.
Foi um tempo que se sentiu o impacto de aspectos que marcam a vida contemporânea, nomeadamente as fake news, sobre a negação da pandemia, e, até à recusa das vacinas.
“O mundo da COVID é o mundo em que nós vivemos, é um mundo cujas consequências ainda estão longe de ser inteiramente conhecidas.”, disse.
Tomem a sério o conhecimento, o saber e o ler
Pacheco Pereira, salientou que a COVID ao ser mais perigosa para os mais velhos – “gerou um efeito de egoísmo”.
Recordou que, as “sociedade não são idílicas, as pessoas têm os seus interesses, têm a sua cultura, têm a sua maneira de ver e, de uma forma geral são comodistas, sem ser necessariamente com o sentido pejorativo. São comodistas. E, acima de tudo têm a ideia que o mundo é lúdico”.
Sublinhou que – “a diversão é a principal característica do mundo em que nós vivemos, e, infelizmente não o é”, por essa razão, considerou – “a necessidade de um incremento de lucidez sobre estas coisas”.
“Eu espero que esta exposição ajude a perceber que o mundo não é fácil, que o mundo é muitas vezes muito complicado”, afirmou.
Na maioria dos casos as pessoas vivem mal.
O historiador alertou que, é preciso ter em atenção essa sensação de facilidade e de egoísmo que o mundo gere, essa ideia que a vida é essencialmente lúdica ou que a vida é para viver bem, quando, na maioria dos casos as pessoas vivem mal.
“Para perceberem isso, só há uma coisa – o conhecimento. Vocês estão a estudar, tomem a sério o conhecimento, o saber, o ler, e não vivam dependurados num mundo de 150 caracteres no Twitter, nem num mundo do Tick Tock, todo esse tipo de coisas.”, afirmou Pacheco Pereira.
Na sua intervenção referiu, não ser contra que esses mundos existam, mas, disse, “quer queiram, quer não, se estiveram só nisso, isso vai prejudicar-vos”, porque, –“enquanto estão horas a jogar no computador não vivem”.
Pacheco Pereira, salientou que, quando estão horas a trocar mensagens – “há um vazio completo”, enquanto estiverem no Facebook, no instagram ou no Twitter – “estão a perder a oportunidade de se defender melhor no mundo do futuro, que, insisto não vai ser fácil”.
“Espero que esta exposição sobre o COVID vos mostre os riscos e os perigos do mundo em que nós vivemos”, e, acrescentou que a guerra é uma realidade que também agrava todos estes factores de riscos e perigos.
Pessimistas na inteligência - optimistas na vontade
“Queria chamar-vos à atenção, que, do ponto de vista da história, nada está garantido, tudo é surpresa”, disse.
Referiu a Lei de Murphy, recordando que, “quando uma coisa pode ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível”.
“As pessoas que se regem pela Lei de Murphy, são pessimistas na inteligência, mas, são optimistas na vontade”, e, acrescentou, “se conseguirem combinar essas duas coisas vivem melhor, se não conseguirem combinar as duas coisas não vai ser fácil”.
Exposição a visitar
A exposição “aC/dC – Tempos de Pandemia”, com documentos do Arquivo Ephemera, está patente na Biblioteca da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro do Instituto Politécnico de Setúbal, pode ser visitada até ao próximo dia 30 de junho, todos os dias úteis, entre as 10h00 e as 16h30.Não perca a oportunidade visite. Entrada livre.
António Sousa Pereira
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25.04.2023 - 21:55
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