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Jornadas Europeias do Património
Barreiro necessita de um Plano transversal para a área do património
. defendeu Gilberto Gomes
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A reabilitação de edifícios industriais pode contribuir para a reabilitação de zonas urbanas, sendo a base de actividades sociais, culturais e económicas – “o património industrial reabilitado pode contribuir para a economia local.”, defendeu Maria Eugénia, da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro/ Instituto Politécnico de Setúbal.
No âmbito das Jornadas Europeias do Património, na passada sexta-feira, nas Oficinas da CP, realizou-se uma sessão, com várias palestras que tiveram como tema a temática do Património Industrial.
As comemorações das Jornadas Europeias do Património, começar nesse mesmo dia, pela manhã, os espaços museológicos e arquivísticos do Barreiro abriram as portas, com visitas guiadas que tiveram como público alvo estudantes, nomeadamente o Museu Industrial da Baía do Tejo, o Espaço Memória da Câmara Municipal do Barreiro, e, também os arquivos da Fundação Amélia de Mello, dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra, e o Ephémera, de José Pacheco Pereira.
Os jovens identifiquem a nossa identidade local
As palestras aconteceram à tarde, nas Oficinas da CP, na abertura Arlete Cruz, vereadora da Câmara Municipal do Barreiro, responsável pela área do Património, salientou que as visitas realizadas pela manhã aos espaços museológicos e arquivos foram importantes para que os jovens estudantes identifiquem a nossa identidade local, conheçam a nossa paisagem cultural, história e património.
Cidade dos Arquivos experiência única
José Pacheco Pereira, que moderou as palestras, salientou a importância do conceito Barreiro- «cidade dos arquivos», referindo que esta é uma experiência única no país, que contribui para estabelecer relações com o passado, preservar o património, desenvolver uma pedagogia da memória e dar valor ao Arquivos.
A propósito da temática das palestras, dirigidas ao património industrial, salientou que esse é outro aspecto da identidade do Barreiro.
Na sua opinião, no Barreiro a realidade industrial é o que molda a cidade.
Rio Coina a memória do Barreiro proto-industrial
Luís Pedro Cerqueira, do Município do Barreiro, na sua intervenção referiu que fruto do trabalho que foi realizado na área do ambiente, no âmbito dos estudos do Gabinete do Corredor Ecológico do Rio Coina, uma das teses abordadas foi dirigida para analisar a influência da actividade humana no ambiente, a qual remonta há 2000 mil anos, nos tempos de Equabona, da época romana.
Referiu que nas margens do Rio Coina, está a memória do Barreiro proto-industrial, assim como o património moageiro, defendendo o concito que – o Coina é uma paisagem cultural e industrial.
Recordou a importância da biodiversidade do Rio Coina e a necessidade de trazer essa carga de vida para o interior da cidade do Barreiro.
Um território que é uma Paisagem Cultural
Nesta mesma temática, António Camarão, Município do Barreiro, sublinhou que aquele território foi moldado pela acção humana, porque o Rio Coina foi ao longo de séculos uma autoestrada regional, na ligação Tejo-Sado, por essa razão Coina tem um valor económico e social marcante, nomeadamente desde os tempos da Ordem de Santiago, que instalou ao longo das margens os Moinhos de Maré.
Recordou igualmente a importância dos Fornos de Biscoito de Vale de Zebro, na Mata da Machada, assim com os diversos portos que existiram desde Cais do Moscatel, ao Cais do Rei do Lixo, bem como outras actividades as Secas do Bacalhau e os Fornos de Cal.
António Camarão recordou os princípios da Carta de Atenas sobre património Histórico, Natural e Cultural, salientando que no Rio Coina, existe património edificado, que marca a sua paisagem histórica, há também uma Paisagem Natural, que tem sido humanizada e, pelas suas características pode ser considerado um território que é uma Paisagem Cultural.
Património industrial reabilitado pode contribuir para a economia local
Maria Eugénia, do Instituto Politécnico de Setúbal – Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, sublinhou a importância das acções que sejam concretizadas em antigas instalações industriais, em defesa do património industrial.
Recordou que a desindustrialização marcou todo o país a partir da década 80, existindo zonas industriais que estão em ruínas.
Na sua opinião é importante desenvolver projectos que contribuam para a reutilização de edifícios industriais e este, recordou, tem sido um trabalho realizado principalmente por autarquias.
Deu vários exemplos, na recuperação de antigos edificios industriais, no caso do Barreiro, valorizou a acção desenvolvida na reabilitação da zona têxtil da CUF, colocando-ao ao serviço de novas actividades e a também da Central Diesel, que foi transformada em Museu Industrial.
Recorde-se que essa operação, na época, foi realizada pela Quimiparque/Baía do Tejo, com a dedicação de Sardinha Pereira, que garantiu muito do espólio, e, o desenvolvimento do projecto contou com o contributo da Câmara Municipal do Barreiro, através do historiador António Camarão.
Maria Eugénia sublinhou que há limitações de tempo para tomar decisões para evitar a degradação do património industrial, que preserva a memória das conquistas industriais, ajuda a contar a história, são exemplos que marcam a identidade cultural de uma região ou de uma comunidade.
A reabilitação de edifícios industriais pode contribuir para a reabilitação de zonas urbanas, sendo a base de actividades sociais, culturais e económicas – “o património industrial reabilitado pode contribuir para a economia local.”
Falar do século XX sem falar do Barreiro é impossível
Ana Paula Gonçalves, da Baía do Tejo, recordou que no território do Barreiro, da Baía do Tejo, salientou que falar do século XX, sem falar do Barreiro é impossível, porque foi a base das indústrias e da indústria química em Portugal, um complexo industrial que se foi transformando ao longo de décadas.
No território disse, existem 6 zonas classificadas, identificando-as, por exemplo, o Silo de Enxofre, a Casa de Alfredo da Silva, Sede da CUF, Mausoléu Alfredo da Silva, Bairro Operário, Armazém de Pirite e Central a vapor.
Recordou que o Museu Industrial da Baía do Tejo, integra a rede europeia de museus.
Na sua intervenção recordou os princípios da Carta de Dublin, sobre a preservação de sítios, áreas e paisagens do Património.
Barreiro necessita de um plano transversal para a área do património
Gilberto Gomes, do Arquivo Histórico Fundação Amélia de Mello, recordou que há mais de 40 anos que participa em reuniões, colóquios no Barreiro, com académicos prestigiados sobre as matérias do património, acrescentando que sobre esta temática já sabemos quase tudo, aqui não se vai dizer nada de novo, o que falta ao Barreiro – “é dar um passo em frente” e por este andar em futuras encarnações voltaremos a falar de património.
Recordou que é impossível falar do século XX em Portugal sem falar da CUF.
Na sua intervenção acrescentou que o Barreiro saltou para o mapa nacional quando os caminhos de ferro chegaram ao Barreiro, este foi o primeiro para aquilo que o Barreiro foi no século XX.
Gilberto Gomes recordou que as ligações fluviais que se faziam no século XIX, entre as duas margens do Tejo, eram feitas por Aldegalega, Moita e Coina a Velha. O Barreiro não era significativo para as grandes estradas do sul.
Na sua intervenção sublinhou o papel de Miguel Pais para o desenvolvimento de projectos ferroviários que foram decisivos para o futuro do Barreiro.
A finalizar a sua intervenção afirmou se o Barreiro não quiser continuar no marasmo em que está necessita de um plano, é fundamental tentar perceber a importância dos Centros de Documentação e os arquivos, e, isto exige uma única entidade e tem que ser a autarquia que promova uma estratégia agregadora, transversal, no investimento, no apoio aos detentores do património, no ensino, na investigação, tudo isto necessita de um plano transversal para a área do património.
Barreiro é detentor de todos os Moinhos de Maré em Alburrica
António Camarão, da Câmara Municipal do Barreiro, salientou que o Plano do Património faz falta, mas, não fácil equacionar esse Plano do Património.
Recordou que o Barreiro é detentor de todos os Moinhos de Maré, em Alburrica, nessa matéria é fácil fazer intervenções, quanto ao Património Industrial da área da cortiça desapareceu, e, quantos aos dois processos de classificação de Património Industrial, que existem no concelho do Barreiro, não foram lançados pelas empresas detentoras do património, mas sim por associações de cidadãos, quer do espaço CUF, quer do território ferroviário.
Acrescentou que ao nível do Património existem situações que estão na esfera privada e só podem ser classificados se o privado estiver de acordo, e, neste momento não há com projectos da CP, nem do espaço CUF.
Referiu, sim há património classificado e agora o que se vai fazer, não basta classificar, interessa conservar, interessa dar-lhe outra utilização e torná-lo duradouro.
António Camarão sublinhou que a defesa do património passa pela iniciativa pública, pelos privados e pela iniciativa dos cidadãos, acrescentou que não é função das empresas preservar e reabilitar o património.
Por outro lado, recordou a criação do projecto FORAL, pela Câmara Municipal, que contribui para o registos de memórias de cidadãos.
Referiu uma recente visita a Lodz, cidade polaca, geminada com o Barreiro, que viveu um processo de desindustrialização, cujo território e espaços foram recuperados e actualemnte são o grande centro cultural da cidade.
Portal on line cerca de 130 mil documentos
Isabel Ramalho, do Arquivo Municipal da Câmara Municipal do Barreiro, que está localizado no Parque da Baía do Tejo, na antiga zona têxtil, num espaço reutilizado, ali estão depositados dezenas de espólios, num total de 3km de documentação.
O Arquivo Municipal faz recolha de espólio, organiza essa documentação, classifica e promove a sua divulgação, podendo ser consultado pelo Portal on line cerca de 130 mil documentos que já foram digitalizados.
História da actividade portuária do Rios Tejo e Sado desde o século XIX
Sara Charneca, do Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra, recordou que o arquivo está localizado no território da Baía do Tejo, no Barreiro, desde 2019, está aberto ao público e à comunidade cientifica.
Recordou que os documentos são o que conta a história das empresas, através dos documentos é que se torna possível conhecer a evolução ao longo dos anos, são os arquivos que preservam a identidade e a cultura empresarial.
O Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra conta com um acervo documental com matérias desde o século XIX até aos dias de hoje, com 30 mil documentos de cartografia, 4500 documentos, 8000 fotografias, digitalizadas e tratados disponíveis em catálogo, estando catalogados on line 71 mil documentos, que abrangem a actividade portuária do Rios Tejo e Sado.
Barreiro um centro dos arquivos nacionais
Após as palestra foram colocadas algumas perguntas pelo público, umas respondidas outras não, e os trabalhos foram encerrados pelo Moderador José Pacheco Pereira, que salientou que a iniciativa Cidade dos Arquivos, deve ser vista de fora, retira o estar voltado para si próprio e para a sua história, porque, na sua opinião o Barreiro deve ir mais longe que simplesmente explorar a sua história e a sua memória e o seu património é bom que o faça, porque, acrescentou o projecto Cidade dos Arquivos tem uma enorme virtualidade, ele pode trazer para o Barreiro Know how em termos de preservação, porque há problemas novos, apesar de existir muita coisa estudada e neste aspecto valorizou o papel da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro.
O projecto Cidade dos Arquivos leva a tornar os arquivos populares, trazer as pessoas às nossas actividades e motivar as pessoas o muito valor que têm nas suas casas, material que deve ser tratado com dignidade, porque a memória ér vital para eles e para o futuro.
Salientou que esta iniciativa Cidade dos Arquivos pode ser um contributo para trazer para o Barreiro outros arquivos, que sejam arquivos que tornem o Barreiro um centro dos arquivos nacionais, abrindo espaço para investigação académica.
A Cidade dos Arquivos que tem sido acarinhada pelo município deve ser vista como estratégica, não apenas com base no património industrial do Barreiro, mas também como modernização da actividade cultural.
“Estamos no bom caminho e podemos fazer muito mais coisas, acima de tudo ultrapassar uma coisa que existe na nossa vida pública que é a falta de imaginação”, afirmou José Pacheco Pereira.
Após as palestras foi inaugurada uma exposição conjunta entre o Coletivo SPA e artistas da associação ADAO, seguindo-se a Sunset Archive Party.
S.P.
24.09.2023 - 23:51
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