reportagem
BARREIRO - Eduarda Azinheira apresentou «A Faca e a Açucena»
“O livro é uma afirmação da Jorgete como escritora”.

Hoje à tarde, nas instalações da Cooperativa Cultural Popular Barreirense, decorreu o lançamento do livro «A Faca e a Açucena» de Maria Jorgete Teixeira.
Vítor Rocha, da editora Mosaico de Palavras, na abertura da sessão, sublinhou que esta é uma obra marcada pela qualidade da escrita, uma escrita que traduz a solidão, o desespero e a esperança, que marcou os dias da pandemia.
“É uma obra que nasceu nesses dias da pandemia, e, não teria sido escrita se não fosse a pandemia”, disse.
Um livro que está relacionado com a pandemia
A obra foi apresentada por Eduarda Azinheira, professora de português, amiga da autora, com quem partilhou projectos e a vida profissional.
Na sua abordagem sublinhou que o livro de Maria Jorgete Teixeira, “é um pouco confidencial” que dá a conhecer a mente e a interioridade da autora.
Sobre o título da obra «A faca açucena», referiu que este é um título muito bonito, marcado por duas palavras: a faca que é uma palavra pequena, em termos sonoros, que refere algo que cortante, incisivo e violento, enquanto a açucena, é uma flor branca, uma palavra com tons suaves, mais doce, que sugere um sussurro, esta é a escrita que se encontra no livro que, disse, “é um pouco confidencial”, no qual a autora “dá a conhecer momentos de grande intimidade”.
Um livro que está relacionado com os dias da pandemia, corresponde a um ano de escrita, sob a forma de um diário, não sendo consecutivo, verifica-se que nele, o primeiro dia coincide com o dia da primeira morte de COVID, em Portugal, o dia19 de março de 2020, e, o livro finda a 19 de março de 2021.
Salienta, Eduarda Azinheira, que nesta obra Jorgete conta a sua vida, do seu presente com descrições do quotidiano, onde se regista que é uma boa observadora, de tudo o que é vida, onde expressa as suas preocupações com a solidão, com as pessoas e com a vida social. Refere que, Jorgete fala de sua casa e de sua família. A casa onde lhe falta o tempo para si, para se dedicar à sua escrita, porque – “a partir de um certo momento da sua vida, ela, tornou-se uma escritora", por essa razão, para a Jorgete, "é fundamental o exercício de escrever”.
A afirmação da Jorgete como escritora.
Uma obra, disse Eduarda Azinheira, onde a autora escreve com “vários momentos de fuga" partindo do presente para voltar ao passado, sendo através desses momentos que, “convoca os seus fantasmas”, conta a sua história de vida, desde a sua infância em Trás-os- Montes, passando pela sua juventude, a vida da aldeia, a vinda para Lisboa, onde se envolveu na politica de forma activa, na luta contra a ditadura, seu envolvimento nas lutas estudantis, a forma como enfrentou a policia, mesmo estando grávida, também a sua ida para o Alentejo e sua chegada ao Barreiro. Referiu, ainda, que Jorgete, não fala só dela, porque ela vive, toda a sua vida, sempre em pleno, envolvendo-se com o seu mundo, isso, tanto no passado, como no presente.
Por fim sublinha, este é um livro onde Jorgete, escreve um resumo da sua vida, onde se expõe – a mulher, combativa, atenta ao mundo - com uma escrita muito bonita, expressiva, muito intensa, fresca, com criatividade, muito genuína – “é uma obra original, que não tem artificialismo nenhum, nem empolamento balofo, tudo faz sentido, tudo é encanto”, um livro que, disse, é uma afirmação da Jorgete como escritora.
A escrita requer disciplina
Maria Jorgete Teixeira, após os agradecimentos, salientou a importância de serem promovidos este tipo de eventos nas associações e cooperativas porque são espaços que desempenharam um papel importante na história do Barreiro, fundamentalmente naquela história antes do 25 de Abril – “eram os únicos sítios onde se podia falar, com alguma liberdade, mas com muitos cuidados”.
Fez uma referência aos seus ancestrais avós, oriundos da terra duriense, do sopé do Marão, – “porque é desse barro que sou feita e nele me alimento. Em particular à minha mãe, que era ainda vida quando escrevi este livro, com imensa saudade”, e, dedicou palavras aos seus quatro filhos – “meu amor e meu suporte, sempre. E aos meus netos que são o futuro que virá”.
Recordou que o seu livro que foi escrito, nos dias de pandemia, que colocaram em causa a arrogância como por vezes olhamos para a vida, e, por outro lado deu-nos a conhecer a fragilidade do ser humano. Fala da sobrevivência, dos laços que não se quebram, e, daquilo que nos sustem – “o que nos susteve foi o núcleo familiar mais restrito”. “Foram dias complicados, muito mais para os mais frágeis”, disse.
Recordou que a escrita requer disciplina. Este livro foi um contrato consigo mesma, para ter disciplina e escrever com regularidade, fazendo-o todos os dias – “assim surgiu este diário”.
O título, inicialmente, era outro. Este nasceu de um poema de Natália Correia – “deram-me um livro e um canivete”, daí surgiu esta onda que deu «a faca e açucena», que expressa o contraditório e esse caminho de fuga à realidade.
Palavras com rostos
Após a apresentação do livro foi proporcionado um momento de leitura encenada de textos da obra apresentada, brilhantemente vividos, por Christiane Macedo e Ana Califórnia, com acompanhamento musical de David do Rosário.
Um momento agradável que de forma encantada, melódica, que permitiu sentir as palavras da autora com rostos da autora, numa viagem pelo tempo, cruzando as palavras no tempo e o tempo com as palavras. Uma leitura sincopada. Um todo, feito de um tempo vivido para a frente e de um tempo sem palavras vivido em retorno. Afinal, a vida faz-se e repete-se, fica inscrita na memória, por dentro das palavras, num passado que é presente, num presente que é passado.
António Sousa Pereira
19.11.2023 - 20:31
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