reportagem
Barreiro - Na Escola Secundária de Casquilhos
Uma lição de Ana Rocha de Sousa sobre cinema, televisão, teatro e escolhas de vida
Ana Rocha de Sousa recordou que após ter concluído a sua licenciatura em Belas Artes, tomou a decisão de partir para Londres, por ter o sentimento que a sua vivência no mundo da televisão, em Portugal, fechava portas que “bloqueavam o meu caminho”.
“Pensei. Bom, vou à minha vida. Vou para onde não me conheçam e não saibam que sou a miúda da televisão. Quis mesmo que as pessoas desconhecessem e ignorassem que eu era a miúda da tele.visão. Fui para um lugar onde ninguém soubesse isso”, disse.
Começar do zero em Londres
” Tomada essa decisão – “vendi tudo e parti para Inglaterra”. Na época tinha 12 anos de carreira. Em Londres foi começar do zero. “Foi difícil. É sempre difícil. São decisões sempre difíceis. Mas não houve melhor decisão da minha vida e decisão mais feliz. Largar tudo e ir”, referiu.
Ir para Londres foi uma decisão que tomou para realizar o seu sonho – “há momentos assim na nossa vida, que temos que ter capacidade de os perceber e os agarrar”. Recordou como foi difícil, de repente estar sozinha num país, com uma cultura diferente, com relações humanas mais distantes – “foi um choque cultural”.
Ana Rocha de Sousa, sublinhou que na London Film School”, existia um ambiente hostil entre colegas, porque é uma escola muito competitiva, muito cara, para onde vão os maiores talentos – “as pessoas não estão ali para brincar, há competição a sério”.
Competição no mundo artístico não é muito simpática
Recordou que a competição no mundo artístico não é muito simpática para com as mulheres, nem para com as pessoas que têm ideias próprias – “mas, depois, se não temos ideias muito próprias, não se chega a grande lado. Não é fácil, mas faz parte”.
Manifestou a sua satisfação por viver no mundo artístico, multidisciplinar, de cultura, do teatro, do cinema, apesar de ser um mundo onde há muitos preconceitos, deu o exemplo de um artista que faz televisão, depois encontrar barreiras para entrar no mundo do cinema.
Quero muito seguir o legado de António Feio
Na sua intervenção defendeu que a arte mais abrangente é o cinema, mas o teatro tem um lado da interpretação que ensina uma coisa elementar na vida – a empatia.
“O primeiro exercício para qualquer actor é a empatia com a sua personagem”, disse, porque é isso que faz que o actor ganhe uma construção humana, muito mais sensível à vida e aos outros. “Existe do lado da representação uma catarse”, afirmou.
A experiência do actor ajuda-o a ter uma vivência mais saudável – “não é por acaso que existe o psicodrama”.
Recordou que viveu uma experiência apaixonada no teatro, num Grupo Amador, em Benfica, dirigido por António Feio – “foi dos poucos lugares onde me senti verdadeiramente integrada. Quero muito seguir esse legado do António”.
Um artista não é só a sua arte, é também a sua ética
Uma conversa viva, intensa, que prendia que escutava, cinema, teatro, artes, as palavras fluíam, ora para salientar que – “um artista não é só a sua arte, é também a sua ética”, ou que não basta o talento, é preciso trabalho, imenso trabalho – “as áreas artísticas não se dão sem trabalho e com a falta de entrega”, acrescentando – “o trabalho é a nossa arte”.
O cinema é uma linguagem primordial enquanto arte
“O cinema é uma linguagem primordial enquanto arte”, disse. Quanto ao teatro, este, exige um grande respeito pelo texto, isso impõe ao actor o sentido de responsabilidade- “eu deixei de fazer teatro por ter pavor pela falha da memória”.
Sobre a sua opção de vida, como realizadora, salientou que, está a abrir caminhos -"cada um de nós tem as suas próprias lutas, tem as suas próprias batalhas. Temos que as escolher bem. Há uma altura, na vida, que temos que perceber quais as batalhas que vale a pena perder tempo. Espero que a minha própria batalha vá abrir caminhos. Tudo o que nós escolhemos é saber viver".
Um registo curioso deste encontro com os alunos da Escola Secundária de casquilhos, foi quando a realizadora, com um sorriso, disse : “Gostava de ser fadista, mas não posso. A minha filha chama-se Amália foi o máximo que eu consegui”.
Uma conversa que foi uma lição de vida e uma viagem pelo mundo das artes - televisão, cinema teatro. Um reflexão sobre as escolhas e as opções de vida, o trabalho e o talento.
António Sousa Pereira
20.11.2023 - 16:33
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