reportagem

PS Barreiro promove debate politico
PS e PSD são duas grandes empresas públicas multinacionais

PS Barreiro promove debate politico<br>
PS e PSD são duas grandes empresas públicas multinacionais Adelino Maltez salientou que a reforma do sistema político “não avança porque o PS e PSD não querem” porque limitam-se a analisar a situação a partir de um “negócio de contabilidade e projecções”.

Carlos Zorrinha sublinhou que o sistema politico “precisa de um abanão”, o “sistema politico precisa de se abrir”.

Luís Ferreira, Presidente da Comissão Politica Concelhia do Barreiro do Partido Socialista, referiu na abertura do debate promovido no Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro, tendo como tema “A Reforma do Sistema Político” que está nos objectivos da Comissão Politica Concelhia dos socialistas promover, com regularidade debates que contribuam para a abordagem de temas da actualidade.
Eduardo Cabrita, que moderou o debate, recordou que na “génese da verdade” e “raiz dos partidos políticos” está o facto de estes serem espaços de promoção de discussões “sem tabus”.
Sublinhou, igualmente que a sua presença naquele debate, residia no facto de “não abdicar da minha posição de militante de base”.

Aprofundar discussão sobre “papel dos partidos”

Eduardo Cabrita, salientou que passados 32 anos desde o 25 de Abril, é importante ser promovida uma reflexão sobre as “características do regime” que “foi constituído por negação a outro que rejeitava partidos e a participação política dos cidadãos”.
Recordou os níveis de participação dos cidadãos nos anos após a revolução, nomeadamente nas eleições de 1975 e o crescente aumento de abstenção nos actos eleitorais.
Na sua opinião, é importante que se aprofunde a discussão sobre o “papel dos partidos”, a “crise dos partidos” a “representação política” entre outras matérias e, seguidamente, apresentou os convidados para participar neste debate.
Carlos Zorrinho, que foi autor de um documento que ficou conhecido por “Documento Zorrinho”, que perspectivava a ruptura de modelo de partido, propondo a abertura do partido a independentes, a realização de primárias nos partidos políticos para candidaturas eleitorais, sendo “uma ruptura interna do modo de estar no PS”.
Adelino Maltez, “uma voz inconformada e critica”, um “anarquista de direita” que permite “pensar numa direita inteligente”.

Só falta salvar o sistema político

Adelino Maltez, interrogou : “Como reformar o sistema politico?” E, respondeu : “Não sei”.
“As frases que hão-de salvar o sistema político já estão todas escritas. Só falta salvar o sistema político. O diagnóstico está feito. Falta por mãos à obra” – salientou, acrescentando - “Temos 32 anos deste regime o que significa que estamos velhos. Mas, não reconhecemos que estamos velhos”.
Adelino Maltez sublinhou que “pertencemos a uma geração que veio de um regime autoritário”, uma geração que “fez uma integração na Europa e construiu a democracia, esta péssima democracia, mas que é o menos péssimo que Portugal teve até hoje”.

Nós somos uma província do euro

Na sua intervenção recordou que “tivemos um PREC” e “entramos na Europa”, que Portugal viveu 10 anos de fundos Europeus, um tempo em que “podíamos manipular um crise”, tempo esse marcado pela coligação do Bloco central, PS e PSD, Cavaco Silva e Mário Soares – “foi a década gloriosa”, que nem se apercebeu da queda do muro de Berlim.
Agora vivemos o tempo do euro, onde “a maioria dos factores de poder não são governamentalmente controlados”, porque, salientou “nós somos uma província do euro”.
Na sua opinião, os dois partidos, PS e PSD, “são duas grandes empresas públicas multinacionais”, financiadas pelos eleitores.
“São duas secções de duas multinacionais europeias, que vinculam programaticamente os próprios partidos” – referiu.
Adelino Maltez, sublinhou que “a acção fundamental da politica é defender o interesse nacional” mas na prática “a maior parte deste processo é gerir dependências”.
E, neste contexto considerou que a “maior mentira foi a questão da Constituição Europeia”.

Bloco dos bipartidos não deixa fazer reformas

Na sua opinião a “reforma do sistema político” tem que ser concretizada “com grande humildade”.
“Hoje não há hipóteses de amanhãs que cantam” – salientou.
Adelino Maltez, referiu que o “bloco dos bipartidos não deixa fazer as reformas”, porque “há uma posição dominante PS/PSD” e “os intrusos são rejeitados” e estes partidos morrem no dia “que haja dissidências”.
Na sua intervenção lançou um “apelo à recriação dos partidos políticos”, sublinhando a importância da formação politica.
“Tivemos boas escolas de formação de quadros no inicio da democracia” e, actualmente, “há um declínio nas Escolas de Quadros dos Partidos”, porque “os partidos deixaram de formar militantes”, por essa razão “os partidos não estão a captar os melhores”.
“Os partidos morrerão no dia que forem tomados por alunos de má nota” – salientou.

Redução do Parlamento a 100 deputados

A finalizar a sua intervenção Adelino Maltez salientou que a reforma do sistema político “não avança porque o PS e PSD não querem” porque limitam-se a analisar a situação a partir de um “negócio de contabilidade e projecções”.
Defendeu a redução do Parlamento a 100 deputados, a criação de Parlamentos Regionais, a descentralização dos poderes centralizados na capital do país que só contribuiu para a “desertificação do país”.

Poder tem resistência à mudança

Carlos Zorrinho, começou por referir a importância de introduzir nos partidos uma regeneração ou “uma capacidade de auto regeneração”.
Sublinhou que “uma organização de poder tem resistência à mudança” e usa a “politica estritamente instrumental”.
Na sua opinião os partidos têm que ter “a ambição de transformar a sociedade, em nome de um conjunto de valores”.
Salientou que por vezes quando se refere que esta democracia”cheia de defeitos” é a “melhor democracia” serve para “justificar o imobilismo”.
Recordou que “o mundo mudou” que hoje “vivemos tempos diferentes” e também “mudou o funcionamento dos partidos”.
“Não me resigno à ideia que o sistema político é um funil à participação, que afasta, que reprime. Não podemos aceitar isto” – referiu Carlos Zorrinho.
“Tenho a utopia que a representação politica deve estar a cargo dos melhores, o sistema politico tem que ser pensado para atrair os melhores” – salientou.


“Cada um de nós pode lutar contra a incerteza” – referiu Carlos Zorrinho, recordando que vivemos numa sociedade dependente da informação, que é “infodependente” e, acrescentou que “a sociedade da informação é a sociedade do individuo em rede”.
Na sua opinião “os partido não podem ser aparelhos” têm que ser uma “rede de indivíduos” que se “associam para atingir resultados”, sendo “indivíduos que se respeitam na autonomia e diferenças”.
Carlos Zorrino referiu que a importância da descentração das “fontes de poder”, que possa ser geradora de “uma imensa maioria em rede”, uma “rede global que determine”.
“Este é um novo patamar, um patamar de representação global” – salientou, acrescentando - “Os partidos ainda bem que são multinacionais”.

O Estado tem que ser forte

Na sua intervenção recordou que há “indivíduos excluídos do direito fundamental” de acesso à informação.
“Ser livre é ter acesso à capacidade de aceder à informação e compreender a informação” – salientou.
Neste contexto sublinhou os “novos poderes emergentes” no mundo actual as “máfias”, as “ONG’s” as multinacionais, a comunicação social, como centros de poder, de novas redes de poder.
“Os políticos não tem poder” perante a dimensão destas redes, referiu, salientando o “declínio das visões holísticas”.
“No contexto global há um novo papel do Estado” – sublinhou.
“Somos de facto uma província do euro” – referiu e neste contexto questionou – “Que fazer com o Estado?”
Na sua intervenção defendeu que o “Estado tem que ser forte, tem que ser um estado que funcione” porque tem que ser “mobilizador”.

Participar numa causa não tem que se estar registado

Carlos Zorrinha referiu a experiência dos “Estados Gerais” que foi gerador de uma esquizofrenia dentro do Partido Socialista.
O PS era dos “job for the boys”, os “Estados Gerais” eram a fonte dos “governantes”.
Esta situação gerou uma conflitualidade, uma dicotomia “o partido politico que tem poder e não tem ideias”, o “centro de reflexão que tem ideias e não tem poder”.
Neste contexto considerou que o essencial é que os “Estados Gerais” funcionem de “forma permanente dentro do partido” porque “é dentro do partido que a abertura tem que ser feita”.
Na sua opinião o partido tem que ser um centro de reflexão, ter ideias, mobilizando os militantes e não militantes para “participar em causas e projectos”.
“Para participar numa causa não tem que se estar registado” – sublinhou.
Referiu a criação de Grupos de Reflexão que contribua para motivar a participação de “militantes temáticos”, que contribuam para fazer dos “partidos focus da acção política”, dando “dignidade à acção partidária”.

O sistema politico “precisa de um abanão”

Carlos Zorrinha sublinhou que o sistema politico “precisa de um abanão”, o “sistema politico precisa de se abrir” e salientou que a discussão do sistema politico “é um tema aliciante porque tem muito a ver com a nossa vida e com o nosso futuro e salvaguarda da democracia”.
Seguiu-se um animado debate, no qual participaram militantes do partido socialista, diversos cidadãos com ou sem partido, sendo de registar a presença de militantes do Bloco de Esquerda e do Movimento Social Liberal ( que aspira a ser partido).
Noutro apontamento iremos abordar as matérias que foram tema de um animado debate político.

22.6.2006 - 1:10

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