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SETÚBAL -Gonçalo M. Tavares fala sobre micro-utopias
«Quando estamos completamente satisfeitos estamos domesticados e saciados»

SETÚBAL -Gonçalo M. Tavares fala sobre micro-utopias <br>
«Quando estamos completamente satisfeitos estamos domesticados e saciados» O escritor Gonçalo M. Tavares afirmou esta esta tarde, em Setúbal, que a transformação de espaços públicos em ambientes mais aprazíveis para todos pode deixar de ser uma utopia, num processo com o envolvimento de todos.

Gonçalo M. Tavares falava no encontro “Micro-Utopias”, no Fórum Luísa Todi, organizado pela Câmara Municipal de Setúbal no âmbito do projeto Venham Mais Vinte e Cincos, comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril, em que se debruçou sobre a forma como as cidades e as sociedades têm mudado ao longo dos anos.
Para o escritor, premiado a nível mundial, a forma de construir um futuro mais utópico, solidário e sustentável, capaz de impactar positivamente as cidades e a vida dos residentes, é explorar ideias simples, mas transformadoras, envolvendo pessoas e instituições.

“Uma micro-utopia é algo que não é impossível. É difícil de realizar, sim, mas não é impossível. Depende de uma pessoa, enquanto ser individual, e das pessoas à volta. Às vezes, basta regressar ao mais simples”, afirmou Gonçalo M. Tavares, elogiando a forma como ideias inspiradoras, quando multiplicadas, têm o poder de gerar mudanças significativas.

Recordando o 25 de Abril de 1974, Gonçalo M. Tavares referiu a uma plateia maioritariamente constituída por jovens que as grandes revoluções acontecem com base na utopia, “da ideia de não se estar satisfeito”, e deu exemplos de conquistas.
“Estão aqui muitas pessoas mais novas. E agora quero falar particularmente para as raparigas. Devem estar gratas ao 25 de Abril. Às vezes, há coisas que não temos noção e às vezes há a ideia de que as mulheres já podem votar há 100 ou 150 anos, não é?”

Gonçalo M. Tavares enfatizou a necessidade do sentimento de descontentamento. “Não estarmos satisfeitos é fundamental, porque quando estamos completamente satisfeitos estamos domesticados e saciados, estamos a desistir”, assinalou. “A insatisfação é uma base para a ideia de utopia.”
No final, desafiou a plateia a partilhar ideias criativas, simples e com impacte social, capazes de transformar os espaços públicos em ambientes mais aprazíveis para todos.

“Olhem, eu acho absolutamente revolucionária a ideia de o espaço público ser também para brincar ou para dormir a sesta. Eu adoraria viver numa cidade que tivesse camas de rede”, disse. “Também acho importante voltar aos cafés, mas como antes, quando eram lugares de encontro. Agora, são lugares de encontro, mas de telemóveis.”
A conferência “Micro-utopias”, com a presença do vereador da Cultura, Pedro Pina, incluiu a exibição de filmes que reúnem propostas criadas por cidadãos e artistas de Setúbal nos últimos meses.

Entre as sugestões destacam-se a criação de agroflorestas em áreas urbanas, a transformação de prédios abandonados em bibliotecas, a implantação de espaços verdes comunitários e a instalação de baloiços e camas de rede nos jardins.
A pintura de jogos, em áreas movimentadas e a criação de uma rede pública de elétricos históricos e de pequenos jardins comunitários, a par de iniciativas como promover encontros espontâneos em cafés ou soprar poesia pela cidade, são outras ideias.

29.11.2024 - 00:21

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